quinta-feira, maio 31, 2007

47. Charrua-gate

Se medirmos um país pela dimensão dos seus escândalos, Portugal fica realmente muito mal visto. Na semana passada o país conheceu o caso do Prof. Charrua, que foi suspenso pela directora da DREN, acusado a partir de uma denúncia por ter insultado o primeiro-ministro.

Ora bem, temos portanto um professor que faz um insulto ao primeiro-ministro (algo que já se transformou numa moda nacional há uma data de anos), outro que o denuncia e uma professora que decide punir o primeiro com base numa denúncia. Creio que a classe dos professores sai mais maltratada do que a reputação do primeiro-ministro. Mas quem sou eu para decidir isto.

Se a moda pega voltamos ao tempo do antigo regime e dos primeiros anos pós-25 de Abril. Nesta altura o cartoonista Augusto Cid lançou um conjunto de livros onde caricaturava algumas figuras dos governos de então, nomeadamente Ramalho Eanes, Mário Soares e Álvaro Cunhal. Estes livros eram apreendidos pouco tempo depois de chegarem ao mercado, o que lembra um pouco o caso do Prof. Charrua.

E que dizer também do fim do programa dos Gato Fedorento? Foi premeditado ou terá incomodado alguém com poder para "carregar no botão"?

De qualquer forma, vivemos tempos difíceis. Não os tornem ainda mais dificeis...

segunda-feira, maio 28, 2007

46. A travessia do deserto

Mário Lino, o mesmo ministro que veio a público comer mioleira de vaca e dizer que era "perfeitamente seguro", contradizendo assim todos os estudiosos da área, vem agora afirmar publicamente que "a sul do Tejo era um deserto" e defendendo o futuro aeroporto da Ota numa zona pantanosa e de nidificação de toda a espécie de aves.

Quais serão os pré-requisitos para se ser ministro, além da mais profunda estupidez?

45. Era uma vez um canal privado...

Era uma vez um canal privado num paraíso chamado Venezuela. Acusado de estar implicado no golpe de estado que tentou tirar o poder a Chavez.

E agora, Venezuela? Que mais vais perder?

44. Má sorte

Dizem as "boas línguas" que a sorte existe. As más linguas dizem-no também, e mais amíude, talvez por experiência própria...

No outro dia vi um filme chamado "secrets" e que girava em torno de um conjunto de entrevistas a pessoas que tinham descoberto o segredo da "lei de atracção", a qual não tinham qualquer conotação sexual, esclarecendo apenas um facto que todos pressentimos - tudo o que nos acontece é predestinado, ou resulta da atracção, do nosso estado de espírito.

Se pensarmos bem, isto é verdade. Se olharmos para a maioria dos casais, vemos semelhanças estranhas nos dois, se calhar semelhanças que nem eles próprios sonham ter.

Se estamos tristes atraímos ainda mais tristeza, dizia o filme. Se fosse verdade, uma pessoa que entrasse em depressão chegaria rapidamente ao suícidio. Se estamos felizes atrairemos mais felicidade.

Tive um caso prático hoje de manhã, na qual me sentia um lixo, numa segunda-feira antes de ir para o emprego. Como cheguei cedo, decidi ir ao centro tomar o pequeno almoço a um café diferente, um perfeito "mimo" para o ego. A ver se o levantava, tipo "viagra". Tarefa dificil nos tempos que correm...

Chegando ao café, estavam todos na penumbra, armados de esfregonas. A montra cheia de bolos abriu-me o apetite e pedi um lanche misto e um pingo directo. A senhora explicou-me, com um ar talvez mais arrasado do que o meu, que tinham sofrido uma inundação provocada pelo rebentamento de um cano. Por isso não podia fazer café, pelo que me serviu um nescafé com uma cafeteira mínuscula de leite.

A pergunta é, se um estivesse de bom humor, teria o cano rebentado?

Este pensamento simples alegrou-me o resto do dia. Não fosse acontecer uma tragédia.

(Afinal a tragédia aconteceu - saltei a numeração dos posts e mandei o 43 para o c...lho. Paciência assim tem mais piada.)

sábado, maio 26, 2007

42. Flashfront

De vez em quando surgem conceitos novos, ou pelo menos raros, em televisão ou cinema mas como estamos absorvidos pelo enredo por vezes não nos apercebemos. Tal como na vida - existem pequenos milagres diários dos quais só nos apercebemos se prestarmos muita atenção a tudo o que nos rodeia. O problema é que na vida actual tudo avança a uma velocidade tal que não temos tempo para estas pequenas coisas que no final é aquilo que traz algum sabor à nossa existência.

Vi ontem o último episódio da terceira temporada da série Lost, com a mesma fome de quem não come à mais de quinze dias. Como é hábito, ao longo do episódio desenrola-se uma história paralela sobre um dos personagens, sob a forma de um flashback. Ou seja, uma história sobre a vida passada, o que funciona muito bem depois de nos habituarmos.

Neste último episódio, e mais concretamente no último minuto, apercebemo-nos de que estivemos a ver não um aspecto da vida passada do Jack, ou seja um flashback, mas sim um "flashfront", nome inventado por mim, porque neste caso a história se passa no futuro, já fora da ilha, e revelando apenas os pormenores necessários para esperarmos ansiosamente pela quarta temporada, a qual se vai desenrolar no mesmo formato do 24.

Fabuloso e ao mesmo tempo imperdível, mas como sempre, apenas para os apreciadores. Como um bom whisky.

quarta-feira, maio 09, 2007

41. Post Sem título

Não consegui dar um titulo a este post, tal como não tenho palavras para descrever o que sinto quando ouço as atrocidades que acontecem a crianças.

Sendo pai de duas crianças, de 3 e 9 anos, não me consigo pôr no lugar de determinados pais, mesmo sabendo que pode acontecer a todos. Falo de Madeleine, a menina Inglesa raptada da casa onde estava a dormir em Lagos. Não faz sentido. E as autoridades que não sacudam as culpas porque demoraram onze horas até fecharem as fronteiras.

Mas existem outros casos, menos mediáticos mas mais dramáticos. Um menino de 4 anos, filho de um funcionário de um cliente da minha empresa, tem Leucemia, com prognostico muito reservado.

Hoje ao abrir o jornal, vejo no obituário a notícia do falecimento de uma criança de 5 anos.

E nós aqui, a lutarmos pelas nossas vidinhas, muitas vezes consumidos por considerações fúteis.

Não faz sentido nenhum.

40. Serial Killer

Ontem o Nuno Markl comentou um facto ao qual tenho de dar razão. Dizia ele na Antena 3 que os Americanos deveriam começar a fazer séries más. Isto porque a qualidade das séries que estão a dar actualmente é tão grande e prendem de tal forma que é rara a noite em que não dê um novo episódio num qualquer canal.

Dizia ele também que isto não se passava se fosse o Barco do Amor.

Ou o Michael Knight ("Kit, venha me buscar").

quinta-feira, maio 03, 2007

39. Anteriormente, neste blog

É assim que começam todos os episódios da famigerada série "Perdidos". Previously on Lost.
Quando começou a dar na TV, só apanhei a partir do quarto ou quinto episódio da 1ª série, pelo que fiquei completamente confuso e completamente averso à série. Não entendia como é que tanta gente conseguia gostar daquilo.

Recentemente comecei a ver os episódios seguidos da primeira série, a partir do primeiro, e finalmente entendi que a confusão que sentira anteriormente era propositada e estudada ao pormenor. Vi (ou seja devorei) cada episódio como se não houvesse amanhã, ficando acordado até ser vencido pela exaustão, ansiando sempre por mais um episódio. Até que fiquei bloqueado no último episódio da 2ª série - um problema qualquer bloqueava este episódio. O meu alto estado de ansiedade levou-me à conclusão de que aquilo era uma droga, criava habituação. O meu organismo estava viciado na adrenalina causada por cada episódio. O facto de não conseguir ver o climax da 2ª série fez-me acordar.

Estava a ser manipulado. Porquê e por quem? Uma pesquisa rápida na net deu-me a perceber parte da história. No fim da década de 90, a televisão estava moribunda pela estagnação causada pela repetição dos mesmos modelos. Eis que surgem séries de grande qualidade, das quais Lost, Donas de Casa Desesperadas, 24, Prison Break são alguns modelos. Como linha comum têm uma história que se prolonga no tempo sem perder nunca a tensão. Para isto são necessários enredos de qualidade, que não percam o interesse, bem como actores competentes.

A primeira série de Lost, é, a meu ver, do melhor que se fez em televisão. O expectador (e nunca esta palavra levou tão longe o sentido de expectar), ganha uma familiaridade tal com as personagens que facilmente nos transportamos para a ilha. Ninguém é perfeito. O meu elemento favorito? Hurley.

Alguns pormenores interessantes que descobri:

(1) O episódio piloto foi o mais caro de sempre feito para televisão. Custou entre 10 e 14 milhões de dólares e o lugar do executivo que assinou o projecto. Como é hábito, todas as revoluções reclamam as suas vítimas.

(2) Com todos os milhões envolvidos, ninguém se lembrou de alterar o genérico inicial, que qualquer pessoal a tirar um curso de 3d Studio consegue fazer na primeira aula. E sem o defeito no S. Se reparem bem, a perna do S torna-se transparente à medida que se aproxima. Mas isto marca a diferença. Não se pretende nada que interfira com a tensão.

(3) A boazona da Kate está noiva de um dos actores da série. Quem será? Dado que ela se está a atirar tanto ao Jack como ao Sawyer, é dificil ver. Será ao Jack? Será ao Sawyer? Acertaram. A boazona da Kate está noiva do Charlie. O palermóide que entrou no Senhor dos Anéis e que aqui é o drogado de serviço.

(4) Na terceira série entra o actor Brasileiro Rodrigo Santoro. Este facto encheu de orgulho o nosso pais irmão. Mas poucos episódios aguentou, porque foi mal aceite pelo público. E como foi mal aceite, saíu tão rápido como entrou, mas de uma forma mais brutal: foi enterrado vivo. Mesmo assim o pobre coitado teve a oportunidade de fazer de Xerxes no filme "300".

Ou seja, voltamos ao espírito das séries intermináveis que davam nos anos 70 (género "O Fugitivo"), que nunca chegavam ao seu climax. Reinventámos a roda e ainda assim eles chamam isto de revolução. Recuso-me a ser manipulado. É fácil ver na net os resumos de cada episódio. Na wikipedia basta procurar por Lost e por Spoilers.

Um pormenor interessante em volta de isto é o aumento do interesse pelas pessoas em volta das séries. Antigamente as pessoas ligavam mais aos filmes do que às séries. A diferença está no tempo em que se condensa o enredo, comprimido em duas horas ou desenvolvendo-se ao longo do tempo. Hoje as pessoas acham compensador gastar dezenas de horas à frente do televisor ou do computador a visionar episódio por episódio das séries.

Passou a ser comum ouvirmos alguém dizer "passei o fim-de-semana a ver a primeira série do 24". Geralmente é fácil vermos as pessoas que fazem isto - têm os olhos do tamanho de azeitonas rodeados por grandes manchas negras de cansaço. Para aliviar a sobrecarga de adrenalina passam uma semana a bater com a cabeça na parede.

Mas se é adrenalina e uma experiência mais duradoura de imersão, porque não ler um bom livro? Façam-no e aproveitem melhor o tempo.

Sejam manipulados em grande estilo.