sexta-feira, março 30, 2007

28. Italian love kids...

Este era o slogan patente numa camioneta que vi hoje. Por baixo aparecia uma imagem de crianças vestidas todas da mesma forma, pelo que se imaginava que fosse uma loja de roupa infantil. Certo.
Mas se pusessem um slogan a dizer "Os Portugueses gostam de crianças", até podiam pôr uma fotografia do papa por baixo, que iam todos pensar em porcarias.

quinta-feira, março 29, 2007

27. Curva à direita (2ªparte)

Depois da chuva aparecem as coisas mais estranhas à superfície. Depois da estranha vitória do Salazar como o maior português de sempre (pela mesma lógica de ideias, Camões seria um sério candidato ao maior ditador português de sempre), apareceu um caramelo de extrema direita a querer mandar os imigrantes para a terra deles. No cartaz alguém já tinha atirado um balde de tinta "castanha". Seria mesmo tinta?

26. Terra Virtual

Por motivos pessoais, sigo de perto os fenómenos informáticos, e interesso-me particularmente com a rapidez com que as pessoas que usam apenas a informática como hobby ou diversão aderem a novidades. Exemplos disso temos o messenger, o correio electrónico e o browser. Um dos últimos fenómenos foi o Googleearth (e digo dos últimos em sentido figurado, porque a coisa já tem uns tempitos...), que pegou com a velocidade de um F1. De um momento para o outro passámos a ouvir com alguma frequência algo como "onde é que fica a minha casa?".

O universo dos googleearth maniacos podem dividir-se em dois grandes grupos: os que só querem ver as suas casas e arredores, e os que, como eu, gosto de ver tudo. Imaginar trajectos pitorescos e fazer viagens virtuais sem gastar um tusto...

Dessas viagens guardo recordações também virtuais. Londes e Paris são fantásticas, sendo Paris uma cidade extremamente cinzenta vista de cima. Lisboa tem também os seus encantos. Aconselho uma visita ao Colombo, que é fabuloso visto de cima. Outro sítio deslumbrante é a cidade proibida em Pequim, e de uma forma geral toda a costa chinesa.

Se tiverem oportunidade, vejam os arredores das cidades Americanas, aqueles subúrbios de casas todas iguais que vemos nos filmes, tão iguais que parece impossível os moradores não se enganarem na casa e só darem por ela quando disserem "Querida, cheguei..."
Vistos do alto, e pelo menos aqueles que eu vi, apercebemo-nos que as ruas desses subúrbios não são direitas, parecem as linhas das cascas dos caracois. E todas com um aspecto ordenado, a contrastar com o nosso caos urbanístico, onde cada um constrói o que lhe apetece onde apetece.

De qualquer forma, um muito obrigado aos senhores que tiveram esta ideia - graças a eles eu posso dizer "eu estive lá". Virtualmente falando.

quarta-feira, março 28, 2007

25. Curva à direita

Embora sendo conterrâneo de Salazar, não é por isso que deixo de condenar a sua vitória como o maior Português de Sempre no programa que deu na RTP1 no último domingo, da mesma forma que não faço uma festa sempre que estou no estrangeiro e me cruzo com um Português - se estivesse em Portugal se calhar nem um Bom Dia trocariamos, mas como estamos numa terra estranha, subitamente somos bons amigos.

A dita vitória, onde conseguiu 41% da votação por telefone, sendo que o segundo colocado, Álvaro Cunhal, não passou dos 17%, segundo creio, é algo tão complexo como a estupidez do referido programa - que mesmo assim fez subir as audiências da RTP. Salazar só ganhou por dois motivos simples: o primeiro deriva de uma tentativa das pessoas de manifestarem o seu desagrado com o regime actual, sucumbindo a uma amnésia selectiva - esquecem-se de que o Antigo Regime foi uma época muito mais austera do que a actual, sem qualquer respeito pela liberdade pessoal das pessoas. 33 anos passados do 25 de Abril, as pessoas esquecem-se o que é viver num regime ditatorial, porque tomam a sua liberdade como algo garantido. As únicas duas coisas favoráveis a Salazar foi o de ter equilibrado as nossas finanças numa altura em que todos os outros países eram afastados por uma crise devastadora, e também pelo facto de ter conseguido a nossa neutralidade.

Em segundo lugar, acredito que Salazar só ganhou porque todos os radicais de direita e outros saudosistas que existem neste país deven ter votado em força, tal como a grande maioria dos comunistas votaram em Cunhal, o que o colocou no segundo lugar do pódio.

Num inquérito independente ao qual responderam cerca de 2000 pessoas, creio que ganhou o D.Afonso Henriques, o qual talvez não tendo uma personalidade muito diferente da de Salazar no que toca à forma de dominar o povo, pelo menos deixou uma obra que será lembrada para sempre de uma forma positiva.

Outro facto interessante, Camões e Pessoa, únicos representantes da cultura, tiveram votações baixissimas, o que espelha a consideração que o português tem pelo seu legado cultural.

E nos outros países, como correu este tipo de votação? Nos Estados Unidos ganhou Ronald Reagan, na Inglaterra Churchill, na França Charles de Gaulle. À excepção da votação dos Estados Unidos, concordo com as votações de Churchill, sem o qual o resultado da segunda guerra mundial teria sido muito diferente, e De Gaulle.

Ponto positivo desta polémica, ter visto a reacção colérica da Odete Santos, em grande pose teatral a afirmar "A apologia do fascismo é proibida pela constituição".

Ponto muito negativo: é triste estarmos todos a pagar para a triste figura que a nossa televisão pública faz. Deixemos esses papeis rídiculos às Sics e TVIs, que é para isso que aí estão, para distrair o povinho.

E mais nada!...

terça-feira, março 20, 2007

24. O umbigo da Claudia Schiffer

Esta vai ser uma rapidinha. Gostava de perguntar a quem de direito a razão pela qual este país está sempre tão desejoso de "atrair capital estrangeiro". Portugal não tem grandes recursos que seduzam investidores que não seja a mão de obra barata com mais qualidade que existe no mundo. Conforme dizem os especialistas, o Português está entre os melhores no que toca a trabalhar. Pelo menos quando trabalham lá fora, não tenho dúvida nenhuma, suam as estopinhas e não se importam de fazer sacrifícios, porque sabem que vale a pena - se querem comprar um carrito, uma casa ou montar um café ou um supermercado aqui têm de o fazer.

Mas o problema é que o investidor quer apenas mão de obra barata. Se a encontra noutro sítio, não vê grandes inconvenientes em mudar de localização.

Por outro lado, este país tem uma localização periférica na Europa. Tem dois grandes portos (Leixões e Lisboa), que estão entre os mais caros da Europa - o que é ridiculo para um país que podia fazer da sua localização estratégica (Africa, América do Norte, América do Sul, Mediterrâneo) uma mais valia.

Por isso, porque não nos concentramos em apoiar as iniciativas locais, dos empresários locais, devidamente preparados para enfrentar os desafios do mercado global e sem a mentalidade de "chico-esperto", de desenrasca. Vamos produzir, vamos explorar o único recurso que resta a este país, que são as suas gentes. Partamos de novo ao desconhecido como fizeram os nossos antepassados. Temos um potencial enorme para servirmos de intermediários entre o Brasil, Angola, Moçambique, e o resto da Europa, o que estamos à espera?

Portugal é como o umbigo da Cláudia Schiffer - pode ser o umbigo mais interessante do mundo, mas não passa disso, e há coisas mais interessantes à volta para explorar.

segunda-feira, março 19, 2007

23. Burrocracia

Sucedeu algumas semanas atrás. Um cozinheiro alemão residente há alguns anos no nosso país suicida-se depois de mais um problema burocrático no arranque de um restaurante no Algarve.

Depois de seis anos a lutar para abrir um restaurante, Frank-Peter Marcischewski finalmente tem tudo pronto, faltando apenas levantar o alvará, que segundo informações já estava pronto. Dirigiu-se primeiro às finanças, onde uma funcionária lhe terá dito que não era ali que se levantavam as licenças, mas sim na câmara. Conhecendo os funcionários das finanças como conheço, a informação terá sido dada com todo o respeito e delicadeza.

Depois dirige-se à camâra onde o informam que o alvará não estava no seu nome, mas sim do sócio com o qual tinha iniciado o projecto, pelo que ele ficou na ideia que não conseguiria abrir o restaurante no dia seguinte, como era o seu objectivo. Por causa disso, pegou no carro, foi até Sagres, pagou 3 euros para entrar no promontório como qualquer turista e atirou-se da falésia.

Esta história faz-me pensar na estupidez natural que grassa em alguns dos nossos serviços públicos (atenção senhores e senhoras, gastem algum do vosso tempo para meditar na razão de existir o vosso emprego - serviço público). O mais grave nisto tudo é que podia ser resolvido facilmente, e ele poderia ter aberto o restaurante sem problemas e em poucas semanas ter o seu nome averbado ao alvará.

22. Decisões

Tem este post a ver com decisões com comboios. No mês passado uma velhota em Viana caíu na linha de comboio, e sofrendo de artrose não se conseguiu levantar. Esperou bastante tempo à espera de alguém, mas ninguém passou para a ajudar a levantar. Eis se não quando ouve vir o comboio e faz a única coisa que podia para salvar a vida: encolheu-se entre os carris enquanto a locomotiva lhe passava por cima, sobrevivendo sem um raspão.

Comentei este facto com uma senhora de Monção, começando a narrar os factos com um singelo "Ouviu falar naquela senhora que caiu na linha do comboio?", ao que a senhora responde "outra?". Ao que parece uma senhora de nacionalidade brasileira tinha-se suicidado atirando-se à linha do comboio.

Como são mais as pessoas que se suicidam do que as que se salvam, a noticia que saiu em todos os jornais e televisões foi a da velhota, pelo que não deve ter saído em lado nenhum a noticia do suicidio. Se a brasileira tivesse escolhido um meio menos comum, do género trinta machadadas, teria sido primeira página em todos os jornais, e todos quereriam saber as razões que a tinham levado a isso.

Ou seja, e não sendo novidade nenhuma, só é notícia o que salta à vista. Como dizia o Markl, "não é notícia quando o cão morde o homem, mas sim quando o homem morde o cão."

terça-feira, março 06, 2007

21. E agora, Hugo?

A Venezuela tem para mim um significado pessoal dado que tenho lá bastante família, pessoas que saíram das ex-colónias para fugir à descolonização apressada que se seguiu ao 25 de Abril. Nessa altura a Venezuela era uma terra rica em recursos, tão rica que os venezuelanos pouco faziam para ganhar o seu sustento, e tão desorganizada que o Portuguesinho se sentia imediatamente em casa. Fartaram-se de abrir padarias e cafés, sempre com o sonho de voltar, mas com a desvalorização monetária que o Bolívar sofreu, chegou um dia em que tiveram de tomar uma decisão, ou voltavam e vinha quase de bolsos vazios, ou ficavam mais uns tempos à espera que a coisa melhorasse lá.

Mas a coisa não melhorou, muito pelo contrário. Entra em cena o único regime de esquerda eleito democraticamente por um povo cego pelas suas promessas - e esquecido do resultado que deu esse tipo de regimes no passado e no presente, na URSS, na China e em Cuba. É pena que essas pessoas que elegeram Chavez não saibam o suficiente sobre a realidade desses países, onde a troco de uma relativa igualdade de riqueza (o que significa que não existem ricos, à excepção dos altos cargos políticos que enriquecem quanto querem).

À diferença de Cuba, com a qual Chavez reivindica uma aliança ilimitada, mas que está isolada numa ilha, demasiadamente próxima dos Estados Unidos para poder exercer a sua influência, a Venezuela está numa posição estratégica para minar todo o norte da América do Sul, e tendo os recursos naturais que dispõe, e principalmente o petróleo, pode facilmente tornar-se uma potência militar, o que tornaria possível o grande sonho de Chavez, ser um segundo Simão Bolívar e conduzir um exército que avançasse até a Argentina, espalhando a sua doutrina aos países deste conturbado continente, cheio de pessoas que muito facilmente o apoiariam. Entretanto os habitantes perdem progressivamente as suas liberdades, conforme os ecos que ouço das pessoas que têm lá família.

E agora, Hugo? Até onde vais, chico?

domingo, março 04, 2007

20. Futurologia

Um conto de ficção cientifica que li à uns anos atrás falava sobre um arqueólogo no futuro longinquo que descobre as ruínas de um edificio do século XX e que começa a fazer as suposições mais disparatadas sobre a nossa cultura face ao que vai encontrando. Género "os hábitos alimentares baseavam-se em tubos de um material pastoso de nome Colgate".

A minha pergunta é: quantas das nossas suposições sobre o que encontramos das civilizações antigas não serão igualmente ridículas? Não seriam eles infinitamente mais evoluídos do que pensamos e estarem igualmente à frente na reciclagem, pelo que não conseguimos encontrar vestígios de maquinaria evoluida?

19. Costumes aberrantes

Sou um apaixonado convicto sobre os costumes antigos, e um defensor acérrimo de todos os que insistem em defender os seus costumes, numa época globalizante como a que vivemos.

O que não quer dizer que defenda "todos" os costumes antigos. Alguns deles são aberrantes, como por exemplo os que se seguem:

(1)

Vi o primeiro costume aberrante num programa que deu à décadas, que falava sobre uma tribo da Indonésia, se não me falha a memória. Nesta tribo havia o costume de, numa determinada festa, e caso faltasse a comida, escolhiam um idoso e comiam-no. Isto tem de ser dito com alguma descrição, porque com a crise que aí vai e com a população idosa que tem este país, de aqui a pouco o governo ainda promulga a canibalização obrigatória.

(2)

Um costume mais soft mas mesmo assim aberrante é o da poliandria, praticado antigamente no Tibete. Li sobre isso no livro Sete Anos no Tibete, livro fantástico que nem o Brad Pitt conseguiu estragar com a sua adaptação ao cinema. A poliandria é o contrário da poligamia, ou seja, uma mulher casada com vários homens. Pelo que estava descrito no livro, as propriedades passavam pelo lado feminino das famílias, pelo que uma família com dois filhos, a única forma que tinham de garantir que as terras permaneciam na família era de casar os dois homens com a mesma mulher.

(3)

O Estado Português pretende taxar doações superiores a 500 Euros com 10% de imposto de selo. Isto creio que não fica atrás dos outros costumes aberrantes e fará rir os historiadores no futuro.

18. Surfing aos setenta

Por vezes existem relatos de pessoas que nos tocam, pessoas que saem da rotina casa-trabalho-filhos-contas por pagar. Entre elas, temos Pedro Lima, que foi um dos pioneiros do Surf em Portugal e que aos setenta ainda é praticante, tanto do surf como de mais um conjunto de modalidades desportivas. Ouvi-o na rádio, no outro dia e deu-me que pensar. Por um lado temos as pessoas que chegam a uma certa idade e se põem numa prateleira, sentindo que não têm mais nada para dar aos outros, que não têm lugar na nossa sociedade. Outros, como o Pedro Lima, recusam-se a entregar as armas e servem de modelo para um perpétuo espírito jovem.

É triste quando na nossa sociedade de consumo onde os Pedros Lima não abundam, se consideram as pessoas de idade como fardos. A ser possível, deveriamos fazer como fazer nas tribos indigenas, onde os anciãos têm lugar de destaque na tomada de decisões, dada a sua maior experiência e pelo facto dos anciãos servirem de veículo de transmissão da sua cultura.

Portanto um grande cumprimento para o Pedro Lima e todos os outros jovens de espírito.

17. Discussões Teológicas à Lareira

Dizia um livro sobre boas maneiras que existem temas que não devem ser abordados à mesa, como por exemplo a política, desporto e religião. O que deixa muita margem de manobra. Quanto à religião tive um exemplo prático disso na semana passada.

Mas vamos por parte. Sou Católico de pai e mãe, não praticante por opção. Já li a Biblia, e reconheço da importância da mensagem contida tanto no velho testamento como no novo testamento. Acredito na existência de Deus, mas sou contra as religiões institucionalizadas. A experiência de Deus deve ser vivida interiormente, como algo intímo. Não sinto a necessidade de ritualizar essa experiência numa Igreja qualquer. No entanto as minhas convicções não me proibem de fazer com que a minha filha frequente a catequese, onde sou sistematica e quase violentamente repreendido por não ser praticante. Existe ou não neste país o direito à liberdade religiosa? Nessa perspectiva, tenho ou não o direito de viver Deus como eu quiser?

Claro que fazer a catequista da minha filha entender isto, creio que é coisa que só uma lobotomia resolveria.

Porque a questão central sobre a religião é: se existe Deus e é único porque razão existem tantas religiões, cada uma progagando a Verdade? Se é verdade que o Deus das três religiões principais, o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo, é o mesmo, porque razão divergem tanto (pelo menos o Islamismo das outras duas).

De qualquer forma, esta discussão veio à baila durante um jantar em família. A minha sogra, já próxima dos sessenta anos e com uma fé inabalável, defendia a sua forma de ver os mistérios da fé e em concreto da Virgem, tecendo teorias fariam corar qualquer ateu de vergonha.
A meio da discussão, vejo-me na obrigação de repôr a verdade dos facto segundo o que me lembrava, fazendo depois uma referência sobre a minha forma crítica de ver a Igreja. A meio, e vendo a pobre senhora completamente agoniada, depreendi que quem escrevera o livro a recomendar que não se tocasse no assunto da religião à mesa estava certo. Mais: crescera em mim um certo sentimento de culpa - que justificação moral tinha em estar ali a destruir as convicções religiosas de alguém, que tinha a liberdade religiosa que eu tanto prezava?

Que importava em estar para alí a explicar que não existiam duas entidades "Virgem Maria" e "Nossa Senhora de Fátima", mas que se referiam à mesma entidade? Até podiam ser três entidades, eu não tinha o direito de me meter nas convicções religiosas de alguém, pelo mesmo motivo pelo qual eu não tenho o direito de ir para dentro do campo no meio de um jogo de futebol, não reuno nenhuma das caracteristicas que me fariam entrar a meio do jogo, a saber: não gosto de apitar, sou um péssimo jogador e a nudez não me favorece.

16. O regresso de Chuckie

Não, não vou escrever uma crónica sobre o Chuckie, o boneco assassino (creio que é assim que se chama). Creio que nunca vi semelhante filme. Se vi, não me recordo, o que diz tudo sobre o filme.
Vou falar sobre os anos oitenta, jogos e ilustres desconhecidos.

Quem quer que tenha passado pela fase da adolescência nos anos oitenta jogou de certeza num Spectrum. Todos tinham ou pelo menos conheciam alguém que tinha um Spectrum, e os jogos era conhecidos por todos. Os fãs dividiam-se entre os jogadores, que pegavam num jogo e não desistiam enquanto não o acabavam, pegando depois em outro e por aí adiante, e nos utilizadores que queriam saber como a máquina funcionava. É dificil hoje em dia explicarmos o fascinio que tinha um computador com menos possibilidades que os telemóveis actuais, mas um adolescente na altura tinha a noção de que podia criar jogos e vendê-los. A minha cabeça na altura estava cheia de histórias de rapazes que lia nas revistas, que tinham criado um jogo fabuloso e que tinham ganho muito dinheiro com isso. Por mais que tentasse nunca consegui chegar lá, por muito boas que fossem as minhas ideias, nunca consegui criar nada com a qualidade necessária para ter coragem de mandar para o mercado.

Vinte e cinco anos depois, deparo-me por acaso com a biografia de Nigel Alderton, que aos 16 anos cria o jogo Chuckie Egg, uma ideia simples para um jogo de plataformas que puxava a destreza dos jogadores ao limite e que é ainda hoje um marco na história dos jogos - são raros aqueles jogos que causam o mesmo vicio. Lembro-me de passar as férias de Verão com os amigos a jogar Chuckie, organizando campeonatos que duravam tarde inteiras. De qualquer forma, deparei-me ontem na internet com a história de Nigel, um rapaz inglês que criou o Chuckie e que vendeu a ideia à A&F, uma das muitas empresas que comercializavam jogos na altura.

Nigel fez-me lembrar dos meus sonhos da altura, e como não foram realizados. No artigo que li, apercebi-me de dois factores que levaram a que não tivesse tido sucesso. O primeiro prende-se com o facto de que os amigos de Nigel eram também programadores. É mais fácil conseguirmos um objectivo quando estamos rodeados de pessoas com os mesmos interesses e com os quais podemos partilhar descobertas. Eu estava sozinho e mesmo aqueles que poderiam criar alguma coisa não estavam dispostos a isso - dava muito trabalho e em Portugal não havia um mercado para comercializar o produto. E este é o segundo ponto. Nem nessa altura havia empresas apostadas em pegar em ideias de jovens e comercializa-las. Hoje em dia o panorama melhorou, principalmente porque a Internet abriu os mercados. É mais fácil um programador português colaborar com uma empresa de um outro país do que na altura.

Depois do Chuckie, Nigel criou o Commando, uma versão em formato jogo do filme com o mesmo nome, que fez algum sucesso mas nada que parecesse o sucesso que teve a sua ideia original. Depois disso desapareceu do mapa. Não encontro nada sobre ele na Internet.
Quantos programadores este país não terá perdido porque não havia ninguém decidido a apostar neles?

Mais do que combater o deficit com medidas castrantes, porque não promover a criatividade individual daqueles que querem criar algo para fazermos aumentar o PIB e deixarmos de ser tão dependentes das ideias dos outros que estão lá fora têm?