quinta-feira, maio 03, 2007

39. Anteriormente, neste blog

É assim que começam todos os episódios da famigerada série "Perdidos". Previously on Lost.
Quando começou a dar na TV, só apanhei a partir do quarto ou quinto episódio da 1ª série, pelo que fiquei completamente confuso e completamente averso à série. Não entendia como é que tanta gente conseguia gostar daquilo.

Recentemente comecei a ver os episódios seguidos da primeira série, a partir do primeiro, e finalmente entendi que a confusão que sentira anteriormente era propositada e estudada ao pormenor. Vi (ou seja devorei) cada episódio como se não houvesse amanhã, ficando acordado até ser vencido pela exaustão, ansiando sempre por mais um episódio. Até que fiquei bloqueado no último episódio da 2ª série - um problema qualquer bloqueava este episódio. O meu alto estado de ansiedade levou-me à conclusão de que aquilo era uma droga, criava habituação. O meu organismo estava viciado na adrenalina causada por cada episódio. O facto de não conseguir ver o climax da 2ª série fez-me acordar.

Estava a ser manipulado. Porquê e por quem? Uma pesquisa rápida na net deu-me a perceber parte da história. No fim da década de 90, a televisão estava moribunda pela estagnação causada pela repetição dos mesmos modelos. Eis que surgem séries de grande qualidade, das quais Lost, Donas de Casa Desesperadas, 24, Prison Break são alguns modelos. Como linha comum têm uma história que se prolonga no tempo sem perder nunca a tensão. Para isto são necessários enredos de qualidade, que não percam o interesse, bem como actores competentes.

A primeira série de Lost, é, a meu ver, do melhor que se fez em televisão. O expectador (e nunca esta palavra levou tão longe o sentido de expectar), ganha uma familiaridade tal com as personagens que facilmente nos transportamos para a ilha. Ninguém é perfeito. O meu elemento favorito? Hurley.

Alguns pormenores interessantes que descobri:

(1) O episódio piloto foi o mais caro de sempre feito para televisão. Custou entre 10 e 14 milhões de dólares e o lugar do executivo que assinou o projecto. Como é hábito, todas as revoluções reclamam as suas vítimas.

(2) Com todos os milhões envolvidos, ninguém se lembrou de alterar o genérico inicial, que qualquer pessoal a tirar um curso de 3d Studio consegue fazer na primeira aula. E sem o defeito no S. Se reparem bem, a perna do S torna-se transparente à medida que se aproxima. Mas isto marca a diferença. Não se pretende nada que interfira com a tensão.

(3) A boazona da Kate está noiva de um dos actores da série. Quem será? Dado que ela se está a atirar tanto ao Jack como ao Sawyer, é dificil ver. Será ao Jack? Será ao Sawyer? Acertaram. A boazona da Kate está noiva do Charlie. O palermóide que entrou no Senhor dos Anéis e que aqui é o drogado de serviço.

(4) Na terceira série entra o actor Brasileiro Rodrigo Santoro. Este facto encheu de orgulho o nosso pais irmão. Mas poucos episódios aguentou, porque foi mal aceite pelo público. E como foi mal aceite, saíu tão rápido como entrou, mas de uma forma mais brutal: foi enterrado vivo. Mesmo assim o pobre coitado teve a oportunidade de fazer de Xerxes no filme "300".

Ou seja, voltamos ao espírito das séries intermináveis que davam nos anos 70 (género "O Fugitivo"), que nunca chegavam ao seu climax. Reinventámos a roda e ainda assim eles chamam isto de revolução. Recuso-me a ser manipulado. É fácil ver na net os resumos de cada episódio. Na wikipedia basta procurar por Lost e por Spoilers.

Um pormenor interessante em volta de isto é o aumento do interesse pelas pessoas em volta das séries. Antigamente as pessoas ligavam mais aos filmes do que às séries. A diferença está no tempo em que se condensa o enredo, comprimido em duas horas ou desenvolvendo-se ao longo do tempo. Hoje as pessoas acham compensador gastar dezenas de horas à frente do televisor ou do computador a visionar episódio por episódio das séries.

Passou a ser comum ouvirmos alguém dizer "passei o fim-de-semana a ver a primeira série do 24". Geralmente é fácil vermos as pessoas que fazem isto - têm os olhos do tamanho de azeitonas rodeados por grandes manchas negras de cansaço. Para aliviar a sobrecarga de adrenalina passam uma semana a bater com a cabeça na parede.

Mas se é adrenalina e uma experiência mais duradoura de imersão, porque não ler um bom livro? Façam-no e aproveitem melhor o tempo.

Sejam manipulados em grande estilo.