quarta-feira, novembro 17, 2010

472. Precisamos mesmo saber?

Na revista Sábado apareceu uma notícia sobre um escocês traficante de droga que foi torturado no Algarve. Tenho vergonha de revelar que senti alguma curiosidade mórbida sobre os detalhes da dita tortura, mas não esperava tantos pormenores - passou-me imediatamente a curiosidade, transformada num sentimento de "Precisamos mesmo saber isto?".

Há poucos dias dei com outro exemplo. O jornal da TVI deu a notícia do roubo de uma viatura. A senhora tinha ido a casa, deixando a chave na ignição, e se isto ainda não bastasse, deixou também os dois filhos. O ladrão andou dez quilómetros com os filhos da dona do carro lá dentro, antes de fugir. Até aqui tudo bem. Posso bem com a estupidez natural das pessoas.

O que se passou depois foi mais grave, porque o jornalista indicou que o filho mais velho, de apenas 7 anos, ia fazer a identificação do criminoso, e não bastando isto ainda deu os detalhes físicos da criminoso. Indicou por exemplo que tinha cabelo grande. Se ele fôr espectador da TVI a esta hora já cortou o cabelo...

Senhores jornalistas. Sejam eficientes. Informem o que precisamos de saber, mas tenham a noção de que não precisamos saber TUDO!

quarta-feira, setembro 01, 2010

471. Viagem no tempo

Tive uma ideia ao mesmo tempo estúpida e irrelevante, pelo que deve fazer algum sentido. Estava a ver um programa do Discovery sobre os incas, onde mostrava as pessoas a desenterrarem múmias incas com centenas de anos e tive esta ideia fabulosa. Estamos a desenterrar coisas que sobreviveram centenas e mesmo milhares de anos debaixo de terra e em edíficios de pedra e a colocá-las em museus.

Perfeito.

Mas de aqui a milhares de anos, depois da nossa efémera civilização ter desaparecido, vão acontecer duas coisas. A primeira é que nada vai sobrar da nossa civilização porque usamos o ferro e o tijolo nas nossas construções e os dispositivos de plástico para guardar o nosso acervo cultural. A segunda é que vão também desaparecer as nossas relíquias das civilizações mais antigas, que retirámos da terra onde iam perdurar para a sempre e as guardámos nas construções que não vão durar mais do que algumas centenas de anos.

É deprimente. Eu sei, mas não vai durar para sempre.

quinta-feira, agosto 12, 2010

470. Spínola

Estava profundamente aborrecido quando resolvi entrar no quiosque para comprar uma revista para ler. Quando entrei apercebi-me da pobreza da oferta - de um lado tinha o patinhas, do outro as revistas cor-de-rosa. Quando me dei ao trabalho de dar uma segunda vista de olhos deparo-me com uma colecção de biografias de Portugueses, cada uma a custar 1,95. Uma verdadeira pechincha nos tempos que correm, em que encontrar algo que custe menos do que 2 dígitos é quase tão difícil como encontrar um virgem de 14 anos.

Mas continuemos. Comprei:

(1) a biografia dos Gato Fedorento, uma história de sucesso neste país de anormais.

(2) a biografia de D. Nuno Álvares Pereira, herói português, neto de um arcebispo de Braga e filho de um prior (pormenor perfeitamente irrelevante para o autor da Biografia). É responsável por não sermos espanhóis, facto que muitos choram. Leio esta biografia em Espanha, o que pode muito bem ser configurado como sendo uma actividade criminosa.

(3) a biografia de Spínola. E aqui vem o cerne da questão. A ideia que tinha de Spínola era a de um homem rígido que usava sempre o seu monóculo. O livro retrata-o como uma das personalidades mais influentes do século passado, a sua importância na guerra Ultramarina e posteriormente na sua viragem de opinião sobre o regime.

O que é que a biografia de Spínola tem de importante? Depois de lermos aquele texto ficamos com a ideia de que perdemos muito tempo na escola a estudar os reis e os seus feitos. Devíamos passar mais tempo a estudar o que aconteceu nos últimos sessenta anos, de forma a podermos definirmo-nos melhor e respondermos de uma forma mais saudável à sacrimental pergunta: "Como é que nos metemos nesta alhada?"

quarta-feira, agosto 11, 2010

469. Agua do Luso

Peço desculpa pelo despropósito do título, mas apeteceu-me escrever qualquer coisa mais porcalhona. É a vida.

Por falar em porcalhona, quero contar uma história que presenciei hoje. Fui passar o dia a Samil, a praia de Vigo. Comento com a minha mulher a ausência de lixo na praia e a diferença para o que se passa nas praias e pinhais Portugueses.

À minha volta só ouço falar português.

De tarde chega um grupo de jovens, três rapazes e uma rapariga (linda por sinal). Falavam francês. A rapariga (linda por sinal) bebia água de uma garrafa de litro e meio. Um dos rapazes bebia de uma garrafa de meio litro. Reconheci a marca, LUSO.

Ao fim da tarde levantaram-se, arrumaram as toalhas e deixaram na areia as duas garrafas, meio enterradas, num gesto provocatório. Fiquei-lhes com um pó que nem imaginam. Quem limpe a praia e conheça a proveniência da garrafa vai atribuir-nos a culpa.

Eu também tenho a minha quota-parte da culpa, porque podia ter posto as ditas garrafas no lixo. Mas esta quota-parte não me pesa assim tanto na consciência.

468. Scut ou não Scut, eis a questão.

Caros(as) amigos(as), a indefinição do pagamento ou não das SCUT e toda a polémica gerada é sintomática do desgoverno que nos governa. Sinto que o nosso país se tornou num barco prestes a naufragar, onde metade dos membros do governo só abrem buracos no casco, enquanto que a outra metade só mete água para o interior do barco. SE ESTIVESSEMOS NUM PAIS CIVILIZADO O GOVERNO JÁ TERIA SIDO DEMITIDO.

467. Adeus António

António partiu e deixou-nos infinitamente mais pobres. Partilhámos o seu destino, a sua dor. Bebemos do seu espírito. Rimos desalmadamente, mesmo quando pensávamos que isso já não (lhe) era possível. Sofreu uma morte de treta que nos uniu a todos nesse dia que desejaríamos não ter acontecido.

Descanse em paz.

Espera. "Descanse em paz?". Eram duas palavras que ele tinha riscado à muito do seu vocabulário. Andava a 300, tanto no Porsche quer fora dele. Era amigo de todos, gostava de viver.

Onde quer que estejas, António, diverte-te!

terça-feira, fevereiro 02, 2010

466. Doideira

Tenho acompanhado esta nova edição do Ídolos com bastante interesse, o suficiente para me fazer interromper o meu silêncio para meditação. Aquilo é um espectáculo onde brincamos com o talento dos míudos, o qual é evidente.

Brincamos em primeiro lugar porque transformamos os castings em espectáculo, exacerbando o ridículo que passam todos aqueles que acreditam no sonho da fama, sem terem a mínima preparação. Depois, quando finalmente chega a fase final do espectáculo, os mesmos juris que fizeram o espectáculo nos castings delegam para o público a escolha dos vencedores de cada sessão.

Como se não fosse pouco, o sucesso desta nova edição transformou-se num circo mediático. As revistas e os jornais não tardaram em tentar encher páginas e páginas de "informação" sobre as vidas dos finalistas. O prémio vai para uma revista que em vez de perguntar a um dos concurrentes sobre as suas aspirações e o seu trajecto, não se cansava de tentar perceber as suas tendências sexuais. Todas as músicas foram parar ao youtube, sendo os comentários do mais baixo que tenho visto ultimamente.

Gente, são apenas jovens talentosos num programa de entertenimento, give them a break...


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