sábado, dezembro 02, 2006

13. Crónicas de um Mau Português

Não reuno os pré-requisitos para ser um bom Português. Senão vejamos: em primeiro lugar, não cuspo nem deito lixo para o chão. Claro que o Português também não o faz, atira para o ar, e qualquer coisa estranha atira o lixo e o escarro para o pavimento. Dizem que é a lei da gravidez, mas não acredita... e além disso a culpa é sempre dos outros...

Em segundo lugar, e para espanto de muitos, nunca fui ao Algarve (sim, sou eu...). Conheço Portugal de Norte a Sul, mas nunca passei de Odemira. E sim, continuo vivo. Se calhar até para os Ingleses e Alemães devo ser um fenómeno.

Em terceiro lugar, e também para espanto de muitos, e a falha mais grave apontada, é o facto de ligar pouco ao futebol. Enquanto que o Português médio sabe todas as estatísticas sobre todas as equipas desde a super-liga até ao campeonato regional. É genético. O interesse pela bola varia consoante o interesse dos próprios pais (e não digo aqui "pai", porque existem mulher doidas pela bola, poucas, é certo, mas é como dizem das bruxas, "pero que las ay, ay...").

Sou Benfiquista porque desde a escola ficou bem claro que perderia precocemente os dentes caso não fosse de uma equipa qualquer, alinhando pela claque mariquinhas. Mais por isso do que por outra coisa quaquer, escolhi uma equipa do cardápio - naturalmente a que estava a ganhar o campeonato. Se repararmos coneguimos à partida definir a opção clubistica de alguém pelo seu escalão etário ( a ser verdade, o Benfica arrisca-se a ser um clube do 8 e dos 88 anos).

Vou contar as minhas idas ao futebol. Aquilo que encheria várias bíblias no português dito "normal", no meu caso resumen-se a 2 parágrafos.

Fui a primeira vez ao futebol ao velhinho estádio da luz, Benfica - F.C.P., Super-taça Cândido de Oliveira. Fomos numa carrinha de emigrantes, eramos 13, eu devia andar pelos meus 15 anos. Estacionámos a carrinha em frente ao estádio e como bons portugueses "abancámos" ali mesmo. Puxámos de um assador de 4 pernas ao qual faltava a 4ª perna e que por isso equilibramos em cima de uma pedra e escolhemos uma vítima para assar as ditas febras. Tudo correu bem enquanto o tipo encarregado de vigiar o assador não virou costas. Assim que o fez o assador tombou e como a relva estava seca pegou fogo de imediato. Cena seguinte, todos feitos malucos para impedir que o fogo chegasse aos outros carros.

Outras impressões desse dia: a grandiosidade do estádio, um maluquinho do Porto sentado no meio da claque do Benfica que se levantava aos berros sempre que o Porto partia para o ataque (havia formas mais simpáticas de cometer suícidio, mas aquilo era para a Super-taça, pelo que era a feijões). No fim ajudámos uma senhora a sair do parque de estacionamento. Pegando literalmente no carro em mãos, com a senhora lá dentro. Neste momento ela deve estar a contar a experiência no seu próprio blog (ou talvez não, é capaz de haver coisas mais interessantes para fazer a esta hora, como dormir).

Na minha segunda ida, o destino foi o estádio novo do Braga, com o meu patrão acompanhado pelo pai e um amigo, ambos com problemas de saúde. Já não consegui ficar em frente ao estádio, mas sim a quase 2 Km de distância, mas havia outras diferenças nítidas. A primeira é que o estádio do Braga não tem a oponência do estádio da luz. Falem o que falarem, mas o estádio é feio e não proporciona um bom espectáculo. Original talvez seja. Depois tivemos de subir quase um monte todo até chegarmos à entrada.

A parte hilariante foi que na descida, com milhares de pessoas a descer, deixei cair a chave do carro no caminho. Como sempre, uma pessoa só sabe das más notícias no fim, quando cheguei ao carro que tinha ficado quase a 2 km. Voltei para trás (e neste momento o pessoal já tinha ido todo embora), encontrei a chave no caminho por onde tinham passado quase 20000 pessoas e voltei para trás outros 2 km. Ainda dizem que assistir a jogos de futebol não cansa, safa!

domingo, novembro 26, 2006

12. Dicionário XXX

Reparei ontem que as coisas a que damos mais importância, e que por isso são mais faladas, têm tendência a ganhar mais sinónimos e calões.

Querem uma prova? Comecemos pelo verbo trabalhar. Querem uma palavra semelhante? Tarefa. Que em espanhol se diz "tarea", termo do qual deve vir o nosso termo "tareia". Os ingleses têm um termo igualmente pejorativo, "job", o qual deve ter vindo do personagem mais azarado da Biblia.

Como sinónimo de beber, temos ingerir, emborcar. A palavra comer é mais trabalhada - voltamos a ingerir (o que significa que beber ou comer é a mesma coisa), morfar, meter para o bucho, etc... Podemos inclusivamente ter termos especificos do género pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e ceia. Podemos especificar ainda mais e arranjamos termos como a consoada.

Ou seja, gostamos mais de comer e beber do que trabalhar, o que não é novidade nenhuma.

O grande campeão é, sem dúvida alguma, o sexo. E daí o XXX no nome deste post.

Temos para começar a expressão "relações sexuais". Para resumir "ter sexo" ou "ter relações" é basicamente a mesma coisa, pelo que a expressão "A Alemanha tem boas relações com Portugal e Itália" ganha contornos duvidosos.

Depois temos expressões como "ir para a cama". Quantas vezes não terá a esposa desconfiada perguntado "Já foste para a cama com a Maria?", ao que o marido responde negativamente, aliviado por não ter de mentir. Afinal a queca tinha sido na mesa da cozinha.

A expressão "dormir com" também é curiosa. A mesma esposa pode perguntar ao marido se dormiu com a Maria, e o mesmo marido teria a mesma resposta negativa, porque aquilo tinha sido coisa para uma meia hora que não lhe tinha dado motivos para ter sono, muito pelo contrário...

Existe um cruzamento curioso entre o sexo e a gastronomia – quando dizemos “comer a Maria”, ou “papar a Maria” estamos a falar de sexo, mas quando usamos a expressão “jantar a Maria” ou “almoçar a Maria” estamos a falar de canabalismo, puro e duro.

Continuando com a gastronomia, porque razão é que um queque é um bolo, enquanto que uma queca é uma coisa completamente diferente? Basta ver a diferença nas receitas: se um queque leva farinha, manteiga, água e açucar, já a famosa queca leva um jantar à luz das velas, música romântica, uma garrafa de vinho e uma superficie confortável...

A expressão "dar uma", abreviatura de "dar uma f..." ou dar uma queca", evidencia que a pessoa em causa está perfeitamente ciente do seu potencial, pondo logo de parte a hipótese de "bisar".

Até a própria expressão "fazer amor" é algo contraditória, porque quando chegam a esse ponto as pessoas envolvidas já ultrapassaram nitidamente a fase da indiferença, ou seja, vão fazer algo que já têm. Alguns inclusivamente dizem "fazer O amor", como se fosse uma experiência religiosa e disso dependesse a sua existência.

Os brasileiros podem gostar muito de samba e futebol, mas transar também é com eles. O que me faz pensar que, se comilão é uma pessoa que come muito, uma transacção deve ser uma grande f...

Não posso usar a palavra toda, mas a f... está na boca de toda a gente. Um autêntico broche universal.

Temos ainda a palavra fornicação. Que é uma f... culta.

Se entrarmos pelo sector da cutelaria, temos a célebre "facadinha" no matrimónio. Porquê facadinha e não garfada? Ninguém me tira da cabeça que este termo teve origem em Guimarães. Talvez o D.Afonso Henriques. Não, não podemos ir tão longe. Esse não seria uma simples facadinha, mas uma espada, e das grandes.

E já agora, quem inventou os termos "Aventura" e "Caso"? O primeiro parece ser o título de um livro para adolescentes, "Uma aventura na Quinta" deve ser um treino para uma orgia. E um "Caso" cheira a algo policial, ou seja a coisa deu para o torto. Ainda quanto ao "caso", os ingleses têm uma palavra semelhante, "affair", de "he is having an affair with Maria" ou seja, "ele está a ter um caso com a Maria". Chamem então a porra do CSI...

A coisa assume uma dimensão tal que até a Primeira Vez tem linguagem própria - diz-se que a rapariga foi "desflorada". Ou perdeu "os três".

E por último, o sexo é único pelo simples facto de ter expressões numéricas, como o antigo 69, o qual está na idade da reforma. Hoje em dia está a ser suplantado por novos conceitos como o 699 , cujo grande especialista deve ser o nosso Cristiano R. . (Sem falar no 99, especialidade de um famoso arquitecto de Lisboa, top de vendas no mercado porno).

segunda-feira, novembro 13, 2006

11. Obrigado Sr. Agente

Em Portugal, o limite de velocidade é de 50,90,120, conforme a cantilena que usei para decorar o código de estrada. O problema é que o facto de estar escrito não faz com que as pessoas tenham vontade de cumprir. Ainda por cima os fabricantes de automóveis não ajudam - porque razão constroem carros que vão até aos 250 Km? E ainda por cima é virtualmente impossível irmos só a 50 numa recta, com boa visibilidade e sem carros, quando todos à nossa volta tentam ir a mais de 100. Impossível. Depois há o problema de sabermos identificar correctamente o que é considerado dentro de uma povoação. No Norte, por exemplo, nunca chegamos a estar fora de povoações, pelo que os 90 Km fora das povoações nunca se poderia em regra aplicar. No Alentejo, talvez faça sentido, afinal se formos a cinquenta demoramos um dia até chegarmos a qualquer lado.



Portanto obrigado,Sr Agente, por me lembrar que não se pode ir a 80 dentro de uma localidade. Escusava era de o ter feito por escrito...

domingo, novembro 12, 2006

10. Défice de Criatividade

À semelhança de tudo o que se passa neste país, este blog sofre de um evidente défice de criatividade, que é visível em pequenas coisas que se podem provar facilmente numa pesquisa no Google - dei-me conta disto quando fiz uma pesquisa pelo nome do blog "outro blog". Pelos vistos, deve-me ter saido na rifa a disponibilidade do nome no blogspot.com. Todas as outras combinações parecidas já tinham sido escolhidas.

Outra curiosidade que acentua este défice - a palavra "matematicando" aparece pelo menos uma centena de vezes, e ainda por cima, o raio da palavra usa-se em vários paises. E eu que estava convencido de ter inventado o termo...

Agora só resta atirar-me a um poço. Não, espera..., isso também não é original... portanto só me resta "blogar" até ficar com os dedos em carne viva...

9. Fados

De vez em quando ouvimos falar de histórias, ou fazemos parte de histórias que sabemos nunca mais nos vão largar. Como o caso do Sr. Pizarro, familiar de Luís Pizarro, o mesmo que qualquer Benfiquista deveria conhecer porque dá voz ao seu hino ("ser benfiquista...").

De qualquer forma, o Sr.Pizarro era contínuo no primeiro sítio onde trabalhei em Lisboa. Era uma pessoa singular, que cantava numa casa de fados e como qualquer outro funcionário público gostava de tomar o seu café. Durante o tempo que trabalhei lá, nunca falei muito com ele. Considerava-o uma pessoa muito reservada. Um fim de tarde de Outubro, por altura da Feira de Informática, apanhei o autocarro 57 e sentei-me na última fila. Ao meu lado estava o Sr. Pizarro. Falámos um pouco e combinámos uma ida à casa de fados ouvi-lo cantar - era a minha primeira ida e fiquei entusiasmado com a ideia.

Na segunda-feira seguinte, fiquei abalado com a notícia da morte do Sr.Pizarro, vítima, creio eu, de um ataque cardiaco (mas aqui a minha memória já não é certa).

Outra história que ouvi nesse mesmo local onde trabalhei. A média de idades andaria nessa altura pelos 40 anos. Diziam eles que no ínicio iam todos para a praia. No grupo integrava-se um puto que, embora não trabalhasse lá ia com eles e levava a viola. Chamava-se Luís. Luís Represas.

quarta-feira, novembro 08, 2006

8. Mais Tele-Lixo s.f.f.

Gosto do Tele-Lixo. Quando era puto ainda havia a televisão a carvão,a preto e branco, dois canais. Consumiamos tudo o que aparecia como se não houvesse amanhã. Séries fabulosas que eram vistas por todos porque na realidade só havia um único canal de jeito. O canal 2 era um meio elitista que talvez fosse visto por um punhado de gente que gostava de musica clássica. Eu também gosto de alguma música clássica, mas não a toda a hora...

Ainda hoje quando se falam de programas de televisão que se recordam vem sempre à memória a Heidi e o Marco - já editados em DVD mas sem aquela mística de outrora. Depois haviam as telenovelas, a escrava Isaura, a Gabriela, Roque Santeiro. Lembro-me que o facto de só haver um canal, no dia seguinte à emissão do Roque Santeiro todos comentavam o episódio anterior e repetiam os tiques do Sinhozinho Malta e da víuva Porcina - de facto a televisão fazia com que nos sentissemos numa comunidade de alguma forma mais unida, apenas por termos estado TODOS ao mesmo tempo a ver o mesmo programa. Por algum motivo, até os noticiários eram bons.

Hoje temos quatro canais que competem entre sí por shares de audiência e que em última análise fornecem os indicadores necessários para quem realmente controla as televisões e rádios deste país, as agências de publicidade. Por isso temos filmes de hora e meia com intervalos de três horas.

Só um pensamento paralelo - li algures que no Japão as aulas duram no máximo 45 minutos, o tempo médio de duração de um programa entre dois blocos publicitários, e curiosamente o tempo máximo que uma criança japonesa consegue prestar atenção num determinado assunto.

Não é preciso nada para dizer que existe demasiado tele-lixo, tanto ao nível da produção nacional como internacional. É visível o que os produtores de televisão têm em mente quando fazem um programa - devem pensar algo como "deixa-me lá fazer isto como se fosse para crianças de 4 anos debilóides, afinal eles nunca reclamam para que se faça nada de bem, basta que tenha alguém a cantar aos saltos e faço 400 episódios num mês..."

Só assim se explica o Big Brother e todo o êxito à volta dos Morangos com Açucar e Floribellas - se as pessoas parassem veriam que estão a ser manipuladas, com uma facilidade incrível (a velocidade à qual as pessoas aderem a uma nova moda em torno de um programa televisivo é de tal forma que deviam ser multados).

Era fácil fazermos melhor e termos melhores programas, bastava as pessoas não verem e dizerem não. Não somos obrigados a consumir baboseiras. Assim os shares de audiência baixavam. Claro que isto é demagogia - na realidade espero ansiosamente pelo novos records de mediocridade que decerto vamos bater nos próximos tempos.

Gosto de tele-lixo. Já fui viciado em televisão, mas agora sei que posso dedicar-me a outras coisas com a consciência tranquila- não há nada de interessante a dar em qualquer um dos quatro canais.

sexta-feira, novembro 03, 2006

7. ROFL BOBI ROFL

Esta é para menores de 18 anos (e para outros utilizadores frequentes do messenger e dos SMS).

como e q estas :) ? este artigo e escrito por 1 pessoa q n sabe mandar 1 sms num tlm.

LOL!

o pior e q nao tem ideia do que deve escrever aqui pq está sem ideias :( .

ROFL



TPC (*):

LOL - "Laughing Out Loud" (Gargalhadas Sonoras)
ROFL - "Rolling Over Floor Laughing" (Rolando pelo chão a rir-se)

---

TPC - Tradução Para Cotas

6. Matematicando

Mandaram-me isto há algum tempo atrás. Tem alguma piada.

1 x 8 + 1 = 9
12 x 8 + 2 = 98
123 x 8 + 3 = 987
1234 x 8 + 4 = 9876
12345 x 8 + 5 = 98765
123456 x 8 + 6 = 987654
1234567 x 8 + 7 = 9876543
12345678 x 8 + 8 = 98765432
123456789 x 8 + 9 = 987654321

1 x 9 + 2 = 11
12 x 9 + 3 = 111
123 x 9 + 4 = 1111
1234 x 9 + 5 = 11111
12345 x 9 + 6 = 111111
123456 x 9 + 7 = 1111111
1234567 x 9 + 8 = 11111111
12345678 x 9 + 9 = 111111111
123456789 x 9 +10= 1111111111

9 x 9 + 7 = 88
98 x 9 + 6 = 888
987 x 9 + 5 = 8888
9876 x 9 + 4 = 88888
98765 x 9 + 3 = 888888
987654 x 9 + 2 = 8888888
9876543 x 9 + 1 = 88888888
98765432 x 9 + 0 = 888888888

1 x 1 = 1
11 x 11 = 121
111 x 111 = 12321
1111 x 1111 = 1234321
11111 x 11111 = 123454321
111111 x 111111 = 12345654321
1111111 x 1111111 = 1234567654321
11111111 x 11111111 = 123456787654321
111111111 x 111111111=12345678987654321

Sobre isto tenho três questões:

(1) Quem é que tem tempo para descobrir estas coisas?

(2) Somos pagos para descobrir estas coisas?

(2) Quanto $$ ?

quinta-feira, novembro 02, 2006

5. Sotaque

Tenho duas questões complicadas que me atormentam a consciência durante os últimos dez minutos.

1.

A primeira tem a ver com o sotaque. Expliquem-me porque razão um inglês pode passar toda a vida no Algarve e regressar sem qualquer rasgo do típico sotaque algarvio, enquanto que um português que vá passar uma semana a França, quando regressa já não passou uma temporada em França, mas num mítico país chamado Frrrrrrrrança. Além disso já esqueceu 10% do Português. O que pode fazer com que muito boa gente passe a ter alguma dificuldade em lidar com coisas complexas do dia-a-dia como por exemplo pedir a direcção para a casa de banho mais próxima.

Vem esta banalidade a respeito de Alexandre, um russo que telefonou para a antena 3 durante um programa da Prova Oral dedicado à publicidade (ou melhor, dedicado a um concurso de má publicidade chamado de Cano, onde o prémio principal era uma sanita de ouro...). Ora o Sr.Alexandre tinha de facto um certo sotaque, mas dominava perfeitamente o Português ao fim de apenas 4 anos no nosso país, a ponto de já ter adquirido os nossos tiques. Em duas frases, por exemplo, repetia três vezes "gajo".

Mas vamos à próxima questão...

2.

A segunda questão tem a ver com os açorianos. Porque carga de água põem as televisões legendas quando fala um espanhol e não fazem o mesmo quando fala um açoreano? Serei o único a perceber melhor um espanhol do que um açoreano?

Os açoreanos que me perdõem, porque são fantásticos, e das açoreanas nem se fala...

quarta-feira, outubro 25, 2006

4. Bolachas Coríntia (ou nostalgia parte II)

Isto não é uma banalidade mas antes um assunto muito sério, porque tem a ver com bolachas. E para mim as bolachas sempre foi um assunto sério, companhia assídua das noites de estudo... Creio mesmo que sou um irmão gémeo do monstro das bolachas da Rua Sésamo, mas sem pêlo e com modos um pouco melhores (mas não muito).

De qualquer forma, naquela tarde tinha fome e no Supermercado um pacote de bolachas Coríntia despertou-me a atenção. Há anos que não comia aquelas bolachas. Dirigi-me à Caixa, que me confidenciou serem também as preferidas dela - só tinha pena de serem diferentes das bolachas antigas.

Aquele comentário despertou-me a curiosidade e atirei-me com voracidade às bolachas. Realmente, eram diferentes, mas não eram assim tão diferentes. Apenas um pouco mais duras e com menos passas. A diferença devia estar na cabeça da Caixa do supermercado, penso eu.

A mesma coisa se passa com os Sugus. Na minha infância devorei toneladas daqueles pedaços de sabor. Os meus favoritos eram os de menta, mas duraram pouco tempo. Tinham o papel branco. Depois tinhamos os tradicionais, morango e banana.

À pouco tempo atrás roubei um sugus à minha filha. Ela ainda não sabe, pelo que ainda estou em estado de graça. O sugus não era nem de morango nem de banana, era de melão. Era muito duro, não tinha sabor, e o pouco sabor que tinha era de ... melão. Desapareceu muito do misticismo do sugus. Não volto a comer um sugus com o mesmo prazer, pelo que a minha filha pode estar descansada.

Tem isto tudo a ver com algo muito banal. Porque raio é que os cheiros e sabores das coisas que cheiramos e saboreamos na nossa infância ficam de tal forma gravados? Eu não sei a que cheirava o meu pequeno almoço, mas lembro-me perfeitamente o cheiro do leite no infantário, ou o sabor da colher de azeite que davam no mesmo infantário como complemento do almoço.

Lembro-me perfeitamente do cheiro das lojas, e em especial quatro diferentes cujo cheiro me vai acompanhar até ao fim da Viagem:

1) O cheiro a plástico do Bazar onde ia com a minha mãe comprar legos.

2) O cheiro a bacalhau da loja de Bacalhau.

3) O cheiro a chocolates da mercearia da Esquina.

E por último:

4) O cheiro a café de uma loja que só vendia café.

Pergunta, a que cheiram as lojas de hoje? Sem falar nas lojas das grandes superfícies, um ambiente de tal forma limpo que de certeza corremos menos riscos se formos operados numa loja da Zara do que num Hospital...

A mim, sinceramente, não me cheira a nada, mas os meus filhos se calhar vão escrever alguma coisa sobre os cheiros da sua infância...

terça-feira, outubro 24, 2006

3. Nostalgia do Futuro

Tive na passada semana uma banalidade às escuras, que apesar de tudo correu bem. Durante duas horas falhou a luz por causa de uma tempestade irritante que teimou em gozar com a nossa civilização. Duas horas sem luz, completamente às escuras - nem velas tinhamos no apartamento. Jantámos todos à luz fraca de um carro-lanterna do Noddy que ofereceram ao meu filho. No final fui deitar-me no sofá, completamente às escuras, olhando para o sítio onde pensava estar a televisão.

Nada do que conhecia funcionava - a televisão, o leitor de DVDs, a aparelhagem. O telemóvel só funcionaria enquanto tivesse bateria, e caso o apagão continuasse ficaria também sem telemóvel. Nada incomoda mais uma pessoa hoje em dia do que estar sem telemóvel, por falta de rede ou bateria. Ninguém no seu juizo perfeito escolheria uma casa sem uma das três redes. Tudo o que funciona com baterias só funcionaria enquanto houvesse pilhas em casa.

Apercebi-me de algo simples: toda a nossa fantástica civilização moderna é bastante frágil.

De aqui a alguns anos, os nossos carros serão reduzidos a sucata. Tudo o que produzimos e gravámos em formato digital, CD ou DVD, tem no máximo dos máximos 100 anos de vida. O papel dos nossos livros têm tantos químicos que correm o risco de se despedaçar em algumas dezenas de anos. A probabilidade de os nossos trinetos lerem um livro que foi nosso é bastante reduzida.

E depois temos as nossas construções - o ferro enferruja e o tijolo não resiste muitos anos. Do vidro nem vale a pena falar.

Ou seja, dentro de três mil anos o único vestígio de civilizações passadas será talvez as pirâmides do Egipto, as efígies dos Presidentes dos Estados Unidos no monte Rushmore, o Centro Cultural de Belém e algumas toneladas de lixo radiactivo.

terça-feira, outubro 17, 2006

2 .Ourivesaria Lusitana

A banalidade que fez nascer este triste blog teve origem numa expressão que ouvi na rua há algumas semanas atrás. Por algum motivo ficou-me gravada na memória a conversa entre duas pessoas, já não me lembro sequer se eram duas mulheres, dois homens ou um casal, que se referiam ao preço de algo como tendo custado 400 "Ouros".

Isso fez-me pensar na familiaridade que o dinheiro tem para as pessoas. Em cinco anos passámos a tratar por "tu" a dita moeda, passados os tempos tenebrosos da mudança do velhinho e saudoso escudo (quem diria que com o escudo se iria também a bica a 50 "paus" e o bitoque a 500 "paus"...)

E que dizer do também saudoso "conto"? Pouco tempo antes da transição para o Euro, passei algum tempo com um cidadão Brasileiro, que me pediu para lhe explicar como funcionava a nossa moeda. Na cabeça dele, um escudo (ou "pau") eram 100 centavos, e um "conto" eram mil escudos, sem nunca lhe passar pela cabeça que na realidade as expressões "pau" e "conto" não passavam de gírias monetárias...

Mudou-se o tempo, as vontades e a moeda. Foi-se o escudo, o centavo, o conto e mesmo o pau. Passados cinco anos começamos a ver um novo ciclo e uma nova gíria a surgir. Além do Euro, também o "Ouro" e o "Aéreo" vieram para ficar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

1. Outro blog

Outro blog.

Irra!...

É irritante, isto de uma pessoa ter sempre de se meter nas novas tecnologias. E senão acompanhamos os outros, ficamos para trás. E o pior disto dos "blogues" é que nos vemos na exigência de dizermos algo de diferente, de importante.

Não me apetece.

Ainda bem que este é "outro blog".

Juro solenemente não dizer nada que não seja banal - se procuram algo de giro, podem sempre fazer o zapping para outro blog. Ou então façam algo de interessante. Como ler as primeiras 320 páginas da lista telefónica, ou alguma coisa do género. Podem sempre deixar cair a dita lista telefónica na cabeça. Entre isso e ler as tais 320 páginas, o resultado deve ser o mesmo...

PS - Ao contrário de muitos habitantes e parasitas da blogosfera, se vi mais do que 2 blogs na minha curta existência foi muito. Por outro lado não vou em modas nem em tendências - se tiver comichão, coço, e se tiver vontade de banalizar, banalizo. Banalizo, logo "blogo".

Simples.

Agora façam o favor de me aturar...