segunda-feira, agosto 13, 2012

485. Cães


A rua estava escura – os cortes da crise tinham obrigado a isso e a Lua não ajudava. As luzes do carocha do meu tio eram as únicas coisas que iluminavam a estrada, como se fossem as únicas luzes que existiam no mundo. À nossa frente apareceram sombras brancas, movendo-se lentamente para a berma da estrada, em fila indiana. Cinco cães, quatro pequenos e um grande, a liderar. Um sexto estava no meio da estrada, evidentemente morto, os outros tinham o ar de quem tinha estado a se despedir e olhavam para nós com um misto de recriminação e mágoa. 

A dor de perder alguém não escolhe raças nem espécies. 

O respeito é universal. 

Só nós não entendemos isso: continuamos a pensar que tudo é nosso, um umbiguismo míope e desconcertante. 

sábado, junho 23, 2012

484. A triste teoria da mosca

Com esta história da crise, são cada vez mais as pessoas que não encontram saídas para as suas situações. Tentam sempre recuperar os seus padrões de vida, sem perceberem que as regras mudaram. A sociedade está fragmentada: são as próprias pessoas que têm de procurar o seu lugar, porque os lugares que havia antigamente estão fechados.
Ao almoço vi uma mosca que tentava sair para o exterior, pelo vidro entreaberto da janela. Bastava-lhe voar um bocado para ter uma outra perspectiva das coisas e encontrar um caminho de saída; mas não, ficou o tempo todo a bater contra o vidro.
Custa-me pensar que podemos não ser mais espertos do que uma mosca.

sábado, janeiro 28, 2012

483. Não sei se o mundo vai acabar em 2012

Não sei se o mundo vai acabar em 2012, mas está tudo a ficar tolo, pelo que alguma coisa deve estar para acontecer. 

Não é normal que um presidente da república dê cabo da sua reputação tendo pena da sua reforma, quando na realidade ganha várias vezes mais do que o português médio.

Não é definitivamente normal que um capitão de um cruzeiro dê cabo do seu navio estatelando-o contra as rochas, para que um membro da tripulação possa ter uma visão privilegiada da sua ilha natal. 

E não é normal que a filha do maior futebolista português de sempre venha a público dar uma entrevista num evidente estado de embriaguez. Sobre este último caso, nem quero pensar que este seja o estado normal da senhora.




Portanto, não sei se o mundo vai acabar em 2012, como afirmaram os Maias (também nunca gostei muito do livro), mas parece que vai ser um ano divertido (se não formos engolidos pela crise de que tanto se fala)...

PS - Não é também normal que um jogador do Sporting imponha a sua vontade sobre a vontade do treinador no momento de marcação do penalty, e que depois falhe, naquela que vai ser chamada para sempre de "Técnica de Bojinov" ( Video )

PS2 - Deve andar por aí um vírus da estupidez... pelo que tenham cuidado e protejam-se. Leiam um livro...