sábado, julho 21, 2007

56. Black and White Blues

Para provar que a minha terra não era noticia só pelo Salazar ou pelo Serial Killer, temos as pequenas coisas que saltam à vista se estivermos com atenção e a olhar para o sítio certo. Numa noite de festa, alguns anos atrás dei elas. Pequenas, a preto e branco a lembrar os filmes antigos, poisadas no fio da electricidade que atravessava a rua a sete metros, espaçadas por trinta centímetros com uma precisão fabulosa e viradas todas para o mesmo lado. A principio pensámos que eram enfeites para a festa, mas depois descobrimos que eram andorinhas, milhares delas, pousadas em cima do mesmo fio de electricidade que atravessava uma rua.

Vim a saber que o expectáculo se repetiu durante anos, a mesma rua, o mesmo fio, só deus sabe se as mesmas andorinhas (duvido muito que elas próprias se distingam entre sí, pelo que imagino o forrobodó na altura da procriação - machos ou fêmeas deve marchar tudo...). Chamaram as televisões, mas nenhuma achou o espectáculo suficientemente interessante. Afinal não havia sangue, nem raptos, nem ninguém tinha sido enganado. Eram apenas milhares de andorinhas pousadas no mesmo fio.

Agora tudo acabou, por causa do progresso. O homem do talho comprou uma máquina de limpeza que faz muito barulho e elas nunca mais voltaram.

Ou seria do aquecimento global?