segunda-feira, agosto 13, 2012

485. Cães


A rua estava escura – os cortes da crise tinham obrigado a isso e a Lua não ajudava. As luzes do carocha do meu tio eram as únicas coisas que iluminavam a estrada, como se fossem as únicas luzes que existiam no mundo. À nossa frente apareceram sombras brancas, movendo-se lentamente para a berma da estrada, em fila indiana. Cinco cães, quatro pequenos e um grande, a liderar. Um sexto estava no meio da estrada, evidentemente morto, os outros tinham o ar de quem tinha estado a se despedir e olhavam para nós com um misto de recriminação e mágoa. 

A dor de perder alguém não escolhe raças nem espécies. 

O respeito é universal. 

Só nós não entendemos isso: continuamos a pensar que tudo é nosso, um umbiguismo míope e desconcertante.