A rua estava escura – os cortes da
crise tinham obrigado a isso e a Lua não ajudava. As luzes do carocha do meu tio eram as únicas coisas que iluminavam a estrada,
como se fossem as únicas luzes que existiam no mundo. À nossa frente apareceram
sombras brancas, movendo-se lentamente para a berma da estrada, em fila
indiana. Cinco cães, quatro pequenos e um grande, a liderar. Um sexto estava no
meio da estrada, evidentemente morto, os outros tinham o ar de quem tinha
estado a se despedir e olhavam para nós com um misto de recriminação e mágoa.
A
dor de perder alguém não escolhe raças nem espécies.
O respeito é universal.
Só
nós não entendemos isso: continuamos a pensar que tudo é nosso, um umbiguismo míope
e desconcertante.