quarta-feira, outubro 25, 2006

4. Bolachas Coríntia (ou nostalgia parte II)

Isto não é uma banalidade mas antes um assunto muito sério, porque tem a ver com bolachas. E para mim as bolachas sempre foi um assunto sério, companhia assídua das noites de estudo... Creio mesmo que sou um irmão gémeo do monstro das bolachas da Rua Sésamo, mas sem pêlo e com modos um pouco melhores (mas não muito).

De qualquer forma, naquela tarde tinha fome e no Supermercado um pacote de bolachas Coríntia despertou-me a atenção. Há anos que não comia aquelas bolachas. Dirigi-me à Caixa, que me confidenciou serem também as preferidas dela - só tinha pena de serem diferentes das bolachas antigas.

Aquele comentário despertou-me a curiosidade e atirei-me com voracidade às bolachas. Realmente, eram diferentes, mas não eram assim tão diferentes. Apenas um pouco mais duras e com menos passas. A diferença devia estar na cabeça da Caixa do supermercado, penso eu.

A mesma coisa se passa com os Sugus. Na minha infância devorei toneladas daqueles pedaços de sabor. Os meus favoritos eram os de menta, mas duraram pouco tempo. Tinham o papel branco. Depois tinhamos os tradicionais, morango e banana.

À pouco tempo atrás roubei um sugus à minha filha. Ela ainda não sabe, pelo que ainda estou em estado de graça. O sugus não era nem de morango nem de banana, era de melão. Era muito duro, não tinha sabor, e o pouco sabor que tinha era de ... melão. Desapareceu muito do misticismo do sugus. Não volto a comer um sugus com o mesmo prazer, pelo que a minha filha pode estar descansada.

Tem isto tudo a ver com algo muito banal. Porque raio é que os cheiros e sabores das coisas que cheiramos e saboreamos na nossa infância ficam de tal forma gravados? Eu não sei a que cheirava o meu pequeno almoço, mas lembro-me perfeitamente o cheiro do leite no infantário, ou o sabor da colher de azeite que davam no mesmo infantário como complemento do almoço.

Lembro-me perfeitamente do cheiro das lojas, e em especial quatro diferentes cujo cheiro me vai acompanhar até ao fim da Viagem:

1) O cheiro a plástico do Bazar onde ia com a minha mãe comprar legos.

2) O cheiro a bacalhau da loja de Bacalhau.

3) O cheiro a chocolates da mercearia da Esquina.

E por último:

4) O cheiro a café de uma loja que só vendia café.

Pergunta, a que cheiram as lojas de hoje? Sem falar nas lojas das grandes superfícies, um ambiente de tal forma limpo que de certeza corremos menos riscos se formos operados numa loja da Zara do que num Hospital...

A mim, sinceramente, não me cheira a nada, mas os meus filhos se calhar vão escrever alguma coisa sobre os cheiros da sua infância...