quarta-feira, novembro 08, 2006

8. Mais Tele-Lixo s.f.f.

Gosto do Tele-Lixo. Quando era puto ainda havia a televisão a carvão,a preto e branco, dois canais. Consumiamos tudo o que aparecia como se não houvesse amanhã. Séries fabulosas que eram vistas por todos porque na realidade só havia um único canal de jeito. O canal 2 era um meio elitista que talvez fosse visto por um punhado de gente que gostava de musica clássica. Eu também gosto de alguma música clássica, mas não a toda a hora...

Ainda hoje quando se falam de programas de televisão que se recordam vem sempre à memória a Heidi e o Marco - já editados em DVD mas sem aquela mística de outrora. Depois haviam as telenovelas, a escrava Isaura, a Gabriela, Roque Santeiro. Lembro-me que o facto de só haver um canal, no dia seguinte à emissão do Roque Santeiro todos comentavam o episódio anterior e repetiam os tiques do Sinhozinho Malta e da víuva Porcina - de facto a televisão fazia com que nos sentissemos numa comunidade de alguma forma mais unida, apenas por termos estado TODOS ao mesmo tempo a ver o mesmo programa. Por algum motivo, até os noticiários eram bons.

Hoje temos quatro canais que competem entre sí por shares de audiência e que em última análise fornecem os indicadores necessários para quem realmente controla as televisões e rádios deste país, as agências de publicidade. Por isso temos filmes de hora e meia com intervalos de três horas.

Só um pensamento paralelo - li algures que no Japão as aulas duram no máximo 45 minutos, o tempo médio de duração de um programa entre dois blocos publicitários, e curiosamente o tempo máximo que uma criança japonesa consegue prestar atenção num determinado assunto.

Não é preciso nada para dizer que existe demasiado tele-lixo, tanto ao nível da produção nacional como internacional. É visível o que os produtores de televisão têm em mente quando fazem um programa - devem pensar algo como "deixa-me lá fazer isto como se fosse para crianças de 4 anos debilóides, afinal eles nunca reclamam para que se faça nada de bem, basta que tenha alguém a cantar aos saltos e faço 400 episódios num mês..."

Só assim se explica o Big Brother e todo o êxito à volta dos Morangos com Açucar e Floribellas - se as pessoas parassem veriam que estão a ser manipuladas, com uma facilidade incrível (a velocidade à qual as pessoas aderem a uma nova moda em torno de um programa televisivo é de tal forma que deviam ser multados).

Era fácil fazermos melhor e termos melhores programas, bastava as pessoas não verem e dizerem não. Não somos obrigados a consumir baboseiras. Assim os shares de audiência baixavam. Claro que isto é demagogia - na realidade espero ansiosamente pelo novos records de mediocridade que decerto vamos bater nos próximos tempos.

Gosto de tele-lixo. Já fui viciado em televisão, mas agora sei que posso dedicar-me a outras coisas com a consciência tranquila- não há nada de interessante a dar em qualquer um dos quatro canais.