terça-feira, novembro 11, 2014

487. Surrealismo badalhoco

Devo ter princípios à antiga. Só pode. Hoje de manhã estaciono o carro no sítio de costume, nas traseiras de um café da moda de Braga. No passeio já tinha visto garrafas que os clientes espalhavam durante a noite, numa cópia de um costume espanhol. Mas de ver as garrafas a senti-las a partir por baixo dos pneus do carro vai uma distância que não me interessava percorrer. Paro o carro e olho para trás. Havia um monte de garrafas partidas no sítio onde tinha passado com o pneu. Como não as tinha visto, presumo que já outro carro tinha passado por cima delas.

Olho para o lado, e vejo outro monte de garrafas, atrás de um outro carro. Como tinha visto uma senhora da limpeza das ruas na rua imediatamente anterior, fui falar com ela. O diálogo, absolutamente surrealista foi algo como:
Eu: "Bom dia, estão ali vidros de garrafas, depois da curva."
Ela, enquanto limpava pacatamente folhas do passeio: "Eu sei, juntei-as em montes. Quando passar por lá, apanho-os."

Fui aos arames. Para facilitar o seu serviço, esta criatura tinha feito montes de garrafas por trás de carros, sem nunca lhe passar pela cabeça que os condutores podem não ver os montes. E mesmo se os vissem: iam andar a colocá-las novamente nos passeios?

Conclusão: devo ter mesmo princípios à antiga, e um mau feitio do pior. Só pode. (E, quem sabe, dois pneus furados.)