domingo, novembro 04, 2007

125. Calças à medida

Há alturas em que a vergonha é tanta que toma conta do homem, especialmente quando tem um certo peso.

O momento mais embaraçoso da minha curta existência passou-se no auditório da Microsoft em Oeiras. Fui fazer uma apresentação para uma audiência de 150 pessoas, por sinal a primeira vez que falava para tanta gente, e como sempre algo acontece para estragar o dia. Ao tirar material de merchandising do carro rasguei as calças atrás, desde o cinto ao fecho, passando pelas zonas privadas. Quando fui chamado, tive o cuidado de nunca me virar, e tenho de reconhecer que a demonstração correu bem até ao momento em que as luzes se acenderam, anunciando um intervalo.

Entrei em pânico.

Como é que uma pessoa confraterniza naquela situação? Seguimos encostados à parede, simulando uma ainda mais humilhante "coceira"?

Não, fiquei junto ao palco, respondendo a toda a gente que me convidava para conversar lá fora com um "muito obrigado, mas tenho de preparar isto", e mexia nervosamente no rato, da mesma forma que os funcionários fazem quando são apanhados pelo patrão a coçá-los.

PS

Depois de escrever este artigo lembrei-me de outra história passada com calças, alguns anos antes. Tinha ido dar uma formação de Access a duas raparigas de 18 anos, cujo interesse pela matéria era o mesmo que tinham pela situação política do Qatar. Além da formação ter corrido mal, conhecia mal a sala, pelo que cometi o erro de me encostar á esquina do quadro. Na altura não me apercebi de nada. Terminei a formação com um estado natural de frustração, despedi-me das pessoas que iam fechar a escola e saí. Quando cheguei a casa dei por um rasgão nas calças, de lado.

Na sessão seguinte, perguntei às meninas na secretaria se tinham reparado alguma coisa de estranho, ao que elas responderam que sim. Mas tinham ficado caladas, as anormais.

Na falta de bom circo, qualquer palhaço serve...