domingo, fevereiro 15, 2009

448. Eluana

Cabe-me aqui um desabafo que pode ser mal-entendido por muita gente. Segui com interesse o caso da Eluana, uma italiana vítima de um acidente que ficou 17 anos em coma. No fim desse período o pai tomou a decisão de a levar a uma clínica na Suiça especializada em situações de eutanásia.
Esta decisão levou à revolta dentro do Vaticano e depois o próprio governo veio colocar-se contra esta medida.

Sendo pai não consigo deixar de compreender a atitude corajosa do pai de Eluana. Num caso irreversível como o dela, que mesmo que acordasse do coma viveria com capacidades mentais muito diminuidas, sou o primeiro a apoiar estas medidas. A Igreja tem outra visão - a vida é sagrada e tem de ser preservada a qualquer custo. Não interessa que a pessoa não esteja consciente há 17 anos, e sem qualquer hipótese de recuperar. Não interessa que esteja presa a uma cama sem qualquer capacidade motora e em agonia constante. Segundo o clero, tudo é claro com água. Esquecem-se porém que estas vidas são normalmente artificiais, mantidas apenas com máquinas, sem as quais estas pessoas morreriam em pouco tempo. Na altura em que estas verdades foram definidas pela Igreja, eram raras estas situações.

As pessoas como Eluana morriam naturalmente porque a ciência ainda não tinha evoluido o suficiente para saber como manter pessoas vivas durante tanto tempo.

Quando a ciência tiver evoluído o suficiente para resolver os casos graves como o de Eluana, em vez de se limitar a prolongar a sua vida vegetativa, talvez mude de opinião. Até lá, dêem descanso a quem não tem outra solução.