terça-feira, dezembro 04, 2007

159. Crónica de um ET assumido

Por vezes tenho este pensamento recorrente: como veria um extra-terrestre a nossa civilização?

Primeiro olharia para nós com estranheza: somos os únicos seres vivos que precisam cobrir o corpo para viver. Mais, somos os únicos que temos vergonha desse mesmo corpo (e é muito provável ainda que sejamos os únicos a terem esse sentimento).

Num segundo momento olharia para os nossos hábitos. Deduziria pela nossa biologia que teríamos necessidades básicas de sobrevivência, como comer, beber, defecar, urinar e dormir. E mesmo assim, o ser humano transformou as suas necessidades básicas (ou pelo menos algumas delas) em arte.

Temos milhares de formas de cozinhar os alimentos, temos rituais próprios de alimentação.

Criámos um conjunto enorme de bebidas, muitas delas altamente prejudiciais.

Inventamos camas e formas de dormir.

Temos necessidade de comunicar, inventamos a fala. Depois transformamos a fala em arte, inventando histórias. Numa fase posterior, usamos a nossa musicalidade e transformamos a arte de falar em música.

Quando nos cansamos da oralidade, inventamos a escrita, criamos o livro.

Descobrimos que alguns materiais deixam traços nas paredes, inventamos a pintura. Pegamos num pedaço de terra e criamos uma estátua.

Da nossa necessidade de manter a espécie, inventamos o Kamasutra.

De tudo o que toca, o ser humano tem a capacidade de realizar a sua arte, completar o sonho.

Mas existe um outro lado mais negro - facilmente nos deixamos corromper pela inveja e pelo orgulho.

Tornamo-nos violentos, mas mesmo dessa violência conseguimos criar uma certa forma de arte que a completa, sendo que um dos mais flagrantes exemplos está patente no nosso Hino.