terça-feira, março 06, 2007

21. E agora, Hugo?

A Venezuela tem para mim um significado pessoal dado que tenho lá bastante família, pessoas que saíram das ex-colónias para fugir à descolonização apressada que se seguiu ao 25 de Abril. Nessa altura a Venezuela era uma terra rica em recursos, tão rica que os venezuelanos pouco faziam para ganhar o seu sustento, e tão desorganizada que o Portuguesinho se sentia imediatamente em casa. Fartaram-se de abrir padarias e cafés, sempre com o sonho de voltar, mas com a desvalorização monetária que o Bolívar sofreu, chegou um dia em que tiveram de tomar uma decisão, ou voltavam e vinha quase de bolsos vazios, ou ficavam mais uns tempos à espera que a coisa melhorasse lá.

Mas a coisa não melhorou, muito pelo contrário. Entra em cena o único regime de esquerda eleito democraticamente por um povo cego pelas suas promessas - e esquecido do resultado que deu esse tipo de regimes no passado e no presente, na URSS, na China e em Cuba. É pena que essas pessoas que elegeram Chavez não saibam o suficiente sobre a realidade desses países, onde a troco de uma relativa igualdade de riqueza (o que significa que não existem ricos, à excepção dos altos cargos políticos que enriquecem quanto querem).

À diferença de Cuba, com a qual Chavez reivindica uma aliança ilimitada, mas que está isolada numa ilha, demasiadamente próxima dos Estados Unidos para poder exercer a sua influência, a Venezuela está numa posição estratégica para minar todo o norte da América do Sul, e tendo os recursos naturais que dispõe, e principalmente o petróleo, pode facilmente tornar-se uma potência militar, o que tornaria possível o grande sonho de Chavez, ser um segundo Simão Bolívar e conduzir um exército que avançasse até a Argentina, espalhando a sua doutrina aos países deste conturbado continente, cheio de pessoas que muito facilmente o apoiariam. Entretanto os habitantes perdem progressivamente as suas liberdades, conforme os ecos que ouço das pessoas que têm lá família.

E agora, Hugo? Até onde vais, chico?