domingo, março 04, 2007

17. Discussões Teológicas à Lareira

Dizia um livro sobre boas maneiras que existem temas que não devem ser abordados à mesa, como por exemplo a política, desporto e religião. O que deixa muita margem de manobra. Quanto à religião tive um exemplo prático disso na semana passada.

Mas vamos por parte. Sou Católico de pai e mãe, não praticante por opção. Já li a Biblia, e reconheço da importância da mensagem contida tanto no velho testamento como no novo testamento. Acredito na existência de Deus, mas sou contra as religiões institucionalizadas. A experiência de Deus deve ser vivida interiormente, como algo intímo. Não sinto a necessidade de ritualizar essa experiência numa Igreja qualquer. No entanto as minhas convicções não me proibem de fazer com que a minha filha frequente a catequese, onde sou sistematica e quase violentamente repreendido por não ser praticante. Existe ou não neste país o direito à liberdade religiosa? Nessa perspectiva, tenho ou não o direito de viver Deus como eu quiser?

Claro que fazer a catequista da minha filha entender isto, creio que é coisa que só uma lobotomia resolveria.

Porque a questão central sobre a religião é: se existe Deus e é único porque razão existem tantas religiões, cada uma progagando a Verdade? Se é verdade que o Deus das três religiões principais, o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo, é o mesmo, porque razão divergem tanto (pelo menos o Islamismo das outras duas).

De qualquer forma, esta discussão veio à baila durante um jantar em família. A minha sogra, já próxima dos sessenta anos e com uma fé inabalável, defendia a sua forma de ver os mistérios da fé e em concreto da Virgem, tecendo teorias fariam corar qualquer ateu de vergonha.
A meio da discussão, vejo-me na obrigação de repôr a verdade dos facto segundo o que me lembrava, fazendo depois uma referência sobre a minha forma crítica de ver a Igreja. A meio, e vendo a pobre senhora completamente agoniada, depreendi que quem escrevera o livro a recomendar que não se tocasse no assunto da religião à mesa estava certo. Mais: crescera em mim um certo sentimento de culpa - que justificação moral tinha em estar ali a destruir as convicções religiosas de alguém, que tinha a liberdade religiosa que eu tanto prezava?

Que importava em estar para alí a explicar que não existiam duas entidades "Virgem Maria" e "Nossa Senhora de Fátima", mas que se referiam à mesma entidade? Até podiam ser três entidades, eu não tinha o direito de me meter nas convicções religiosas de alguém, pelo mesmo motivo pelo qual eu não tenho o direito de ir para dentro do campo no meio de um jogo de futebol, não reuno nenhuma das caracteristicas que me fariam entrar a meio do jogo, a saber: não gosto de apitar, sou um péssimo jogador e a nudez não me favorece.