quarta-feira, março 28, 2007

25. Curva à direita

Embora sendo conterrâneo de Salazar, não é por isso que deixo de condenar a sua vitória como o maior Português de Sempre no programa que deu na RTP1 no último domingo, da mesma forma que não faço uma festa sempre que estou no estrangeiro e me cruzo com um Português - se estivesse em Portugal se calhar nem um Bom Dia trocariamos, mas como estamos numa terra estranha, subitamente somos bons amigos.

A dita vitória, onde conseguiu 41% da votação por telefone, sendo que o segundo colocado, Álvaro Cunhal, não passou dos 17%, segundo creio, é algo tão complexo como a estupidez do referido programa - que mesmo assim fez subir as audiências da RTP. Salazar só ganhou por dois motivos simples: o primeiro deriva de uma tentativa das pessoas de manifestarem o seu desagrado com o regime actual, sucumbindo a uma amnésia selectiva - esquecem-se de que o Antigo Regime foi uma época muito mais austera do que a actual, sem qualquer respeito pela liberdade pessoal das pessoas. 33 anos passados do 25 de Abril, as pessoas esquecem-se o que é viver num regime ditatorial, porque tomam a sua liberdade como algo garantido. As únicas duas coisas favoráveis a Salazar foi o de ter equilibrado as nossas finanças numa altura em que todos os outros países eram afastados por uma crise devastadora, e também pelo facto de ter conseguido a nossa neutralidade.

Em segundo lugar, acredito que Salazar só ganhou porque todos os radicais de direita e outros saudosistas que existem neste país deven ter votado em força, tal como a grande maioria dos comunistas votaram em Cunhal, o que o colocou no segundo lugar do pódio.

Num inquérito independente ao qual responderam cerca de 2000 pessoas, creio que ganhou o D.Afonso Henriques, o qual talvez não tendo uma personalidade muito diferente da de Salazar no que toca à forma de dominar o povo, pelo menos deixou uma obra que será lembrada para sempre de uma forma positiva.

Outro facto interessante, Camões e Pessoa, únicos representantes da cultura, tiveram votações baixissimas, o que espelha a consideração que o português tem pelo seu legado cultural.

E nos outros países, como correu este tipo de votação? Nos Estados Unidos ganhou Ronald Reagan, na Inglaterra Churchill, na França Charles de Gaulle. À excepção da votação dos Estados Unidos, concordo com as votações de Churchill, sem o qual o resultado da segunda guerra mundial teria sido muito diferente, e De Gaulle.

Ponto positivo desta polémica, ter visto a reacção colérica da Odete Santos, em grande pose teatral a afirmar "A apologia do fascismo é proibida pela constituição".

Ponto muito negativo: é triste estarmos todos a pagar para a triste figura que a nossa televisão pública faz. Deixemos esses papeis rídiculos às Sics e TVIs, que é para isso que aí estão, para distrair o povinho.

E mais nada!...