sábado, julho 21, 2007

56. Black and White Blues

Para provar que a minha terra não era noticia só pelo Salazar ou pelo Serial Killer, temos as pequenas coisas que saltam à vista se estivermos com atenção e a olhar para o sítio certo. Numa noite de festa, alguns anos atrás dei elas. Pequenas, a preto e branco a lembrar os filmes antigos, poisadas no fio da electricidade que atravessava a rua a sete metros, espaçadas por trinta centímetros com uma precisão fabulosa e viradas todas para o mesmo lado. A principio pensámos que eram enfeites para a festa, mas depois descobrimos que eram andorinhas, milhares delas, pousadas em cima do mesmo fio de electricidade que atravessava uma rua.

Vim a saber que o expectáculo se repetiu durante anos, a mesma rua, o mesmo fio, só deus sabe se as mesmas andorinhas (duvido muito que elas próprias se distingam entre sí, pelo que imagino o forrobodó na altura da procriação - machos ou fêmeas deve marchar tudo...). Chamaram as televisões, mas nenhuma achou o espectáculo suficientemente interessante. Afinal não havia sangue, nem raptos, nem ninguém tinha sido enganado. Eram apenas milhares de andorinhas pousadas no mesmo fio.

Agora tudo acabou, por causa do progresso. O homem do talho comprou uma máquina de limpeza que faz muito barulho e elas nunca mais voltaram.

Ou seria do aquecimento global?

quinta-feira, julho 19, 2007

55. Terra pequena

Ser de uma terra pequena tem destas coisas...qual CSI Miami qual carapuça. A nova série deveria chamar-se CSI Santa Comba Dão, é o que é.

Desconhecida por muitos, esta terra é conhecida por três coisas: o vinho, o Salazar e o Serial Killer. Do vinho e do Salazar está tudo dito. Há quem goste, há quem não goste, há quem diga que fez bem, outros dizem que não cai bem. Mas aquilo que realmente queria falar aqui era sobre o Serial Killer que está a ser julgado na Figueira. Uma coisa é vermos estas coisas na televisão, outra completamente diferente é vermos o irmão de uma das vítimas e falarmos com pessoas que conheciam bem o presumível assassino.

Pelo que me contaram, a seguir ao assassinato da última rapariga, o ex-cabo da GNR foi a Fátima a pé. Pelo que disse uma das mulheres que integraram o grupo, ele estava todo arranhado na cara e passou algum tempo a esconder a mesma com um saco. Pelo que disse esta senhora, volta e meia integrava-se no grupo um homem que também se dirigia a Fátima e que passava o tempo a perguntar coisas ao grupo. Depois desaparecia e passado algum tempo voltava a apanha-los na peregrinação.

Quando perguntou se as mulher do grupo se sentiam em segurança, elas responderam que sim, "porque estavam na companhia de um ex-cabo da GNR", ao que este disse que "se alguém se meter connosco tenho uma surpresa para ele aqui no meu bolso".

A mulher entrou em pânico e apresentou-se de imediato na Judiciária para prestar declarações, vendo nesse momento que a pessoa que os tinha acompanhado na peregrinação era da Judiciária.

54. Bota fedorento nisso...!

Fui ontem ao blog dos Gato Fedorento. Além da loucura generalizada e constante, aquilo que mais me despertou a atenção foi o seguimento do percurso deles. Vemos os comentários deles aquilo que já vimos como trabalho realizado. Do melhor...

Aquilo que me despertou MESMO a atenção foi um comentário (ou melhor, um desabafo) que o Ricardo Araújo Pereira fez na altura da vitória do Engº José Socrates, dizendo que tinha pena que ele tivesse sido eleito há pouco tempo, porque assim ainda não tinha nada para dizer mal.

Vendo à distância o resultado na pérola humoristica "Diz que é uma espécie de Magazine", creio que aproveitaram bem o tempo, arregaçaram as mangas e fizeram o que sabem, achincalhar da forma mais inteligente e requintada...

quinta-feira, junho 28, 2007

53. Padres(2)

O falso padre desapareceu, deixando o carro abandonado no Cabedelo. Esta é a prova de que alguém lê o meu blog e decidiu protestar.

Pois proteste para a frente, que atrás vem gente... !

52. Cultivo da batata

Dizem as más linguas que Portugal é um país de gente inculta, incapaz de ler um livro ou ir a um espectáculo onde não haja um acordeão. Sendo isto verdade, não consigo entender o facto da exposição de Joe Berardo ter 25000 pessoas no primeiro dia (ok, era gratuito, mas entre ver uma coisa que não me interessa apenas pela sua gratuitidade, ou ver algo realmente interessante, opto sempre pela segunda). Ou então o facto dos espectáculos no Theatro Circo de Braga estarem constantemente esgotados.

Será que...

Será que o povo português não é assim tão inculto? Tenho de reconhecer que não temos uma cultura de "cultivação". Se a cultura é promovida apenas na sua vertente elitista, então chegará apenas às elites, e estas não precisarão de mais "cultivo".

Façam coisas mais acessíveis, com uma divulgação estudada, e conseguiremos três coisas fantásticas:

(1) Teremos mais pessoas a admirar a arte
(2) Teremos mais artistas, porque haverá um mercado maior para a arte
(3) Teremos menos pessoas a consumir porcarias porque terão eventualmente adquirido o bem mais importante de todos - um apurado sentido crítico.

Um exemplo: os livros de José Rodrigues dos Santos.

domingo, junho 24, 2007

51. Padres

Conheci um dia o Renato, um tipo porreiro, um verdadeiro génio da Informática. Além do gosto pela área, temos em comum o facto dos padres das nossas paróquias serem tema para as páginas dos jornais.

Tenho de reconhecer que o Padre da paróquia do Renato bate o meu padre aos pontos. Começa por nem sequer ser padre. Era um burlão que durante dois anos assumiu a paróquia de Areias. Durante dois anos ficou com o dinheiro dos peditórios que fazia para ajudar os pobres em África, realizou cerimónias, inclusivé casamentos que agora tiveram de ser considerados nulos. Celebrou um casamento na Sé de Braga.

O Burlão foi apanhado pela polícia em plena celebração de um baptizado.

O que me mete mais impressão é que os paroquianos gostavam dele.

No caso do padre da minha freguesia, pelo simples facto de ter um carro de alta cilindrada, os paroquianos viraram-lhe as costas...

sábado, junho 23, 2007

50. Crise de meia-idade

Dizem que os trinta é uma idade complicada, mas eu digo o contrário. Importou-me muito mais fazer agora 36 do que fazer os 30. Quando um tipo faz 30 anos, ainda está suficientemente perto dos 20 para não sentir grandes complexos, mas quanto um tipo faz 36, sentimos que estamos a caminhar para os 40, e isso mexe com uma pessoa.

No meu caso pôs-me novamente a fazer o balanço de uma vida. O que pesou mais na balança foi a perda contacto de pessoas que povoaram a minha infância e principalmente a atribulada fase de adolescência. No que toca a perder contactos sou um verdadeiro ás.

Penso sempre no que se podem ter tornado os meus amigos e colegas de então. De arrumadores de carros a políticos, tudo é possível, mas na época tinham todos a mesma idade, partilhavamos a mesma escola e os mesmos professores, aprendiamos o mesmo. Hoje em dia somos todos diferentes, cada com a sua vida mais ou menos definida.

No outro dia encontrei na internet o Sérgio, que era primo do Diogo. Os três fizemos um curso de Basic num colégio de padres em Braga, tinhamos treze ou catorze anos. Passava o tempo todo na casa do Sérgio, tinha um fraco pela irmã mais velha. Mas na altura a minha imaturidade não me permitia avançar.

Hoje, o Sérgio é um Astrofísico teórico, que passou pelo Carltech Institute e pela Universidade de Yale, e com trabalhos publicados.

O Diogo foi vice-presidente do PSD de Maio de 1999 a Março de 2000, sendo também porta-voz do PSD para a Sociedade de Informação e deuputado.

Mais recentemente, o meu colega de Universidade Filipe Morato fartou-se de trabalhar na área da Informática e lançou-se à aventura como fotógrafo, viajando por todo o mundo. Lançou agora o livro "Alma de Viajante", que foi tema de uma reportagem no telejornal (estás mais gordito, Filipe...). Por coincidência, Viajante é tambám o meu nick na Internet, eu que só faço 120 quilometrozitos por dia. Ou seja que vou ter de mudar de nick.

Estas histórias fazem-me pensar no que leva as pessoas a mudar de vida. Eu próprio tentei mudar, sair de uma boa empresa e tentar trabalhar como consultor numa época de crise e com mais um filho a caminho, não é pêra doce, mas existem pessoas que se tornam maiores do que as nossas vidas CTC.

Porque eu sou um CTC. O que não tem nada de mal se te satisfazeres com esses limites.

Já agora, um CTC é CASA-TRABALHO-CASA. Um CTC tenta viver o mais próximo de casa possivel. Normalmente proximo também da casa dos pais. Ou mesmo na casa dos pais.

A minha dúvida é saber de que forma eu, enquanto pai, e não tendo conseguido sair desta rotina, tentarei incutir nos meus filhos que devem tentar expandir os seus horizontes. O que fazer?
Espero que eles me ensinem. O tempo dirá se sou bem sucedido.

Só espero que no processo se livrem rapdamente da ministra de educação actual e não suba para o poder um pior.

domingo, junho 03, 2007

49. Honrosa excepção

De vez em quando pego em livros já muitas lidos e re-lidos. Dizem-me que é perda de tempo, mas cada vez que o faço descubro algo de novo.

Um exemplo?

Peguei no livro "Biliões e Biliões", do saudoso Carl Sagan, e logo capítulo introdutório leio o seguinte:

"Contudo, ainda há resistência à notação exponencial da parte de quem se dá mal com a matemática (apesar de a notação exponencial facilitar a compreensão, em vez de a dificultar ) e da parte de certos compositores que parecem ter uma irresistível necessidade de compor 109 como 109..."

E os compositores da editora Gradiva, feridos no orgulho da classe ou simplesmente adaptando o texto do original, incluiram o seguinte:

"...(os compositores da Gradiva são, como pode ver-se, uma honrosa excepção)."

Aplausos. Tirava-lhes o chapéu, mas infelizmente não uso...

sábado, junho 02, 2007

48. Avariado

Quinta-feira deram-me uma triste notícia ao chegar a casa. A televisão tinha avariado. Embora não sendo grande fã da televisão que se faz hoje, nos nossos 4 canais, reconheço que a casa ficou mais "vazia" e incompleta, mesmo sem a ter ligado no último mês. Para o resto da família isso pode significar o caos. Reconheço que se tivesse acontecido quando era mais novo, tinha entrado em "parafuso". Agora é perfeitamente natural.

Mesmo assim passo pelo lugar vazio na sala com a sensação de ter perdido um amigo.

quinta-feira, maio 31, 2007

47. Charrua-gate

Se medirmos um país pela dimensão dos seus escândalos, Portugal fica realmente muito mal visto. Na semana passada o país conheceu o caso do Prof. Charrua, que foi suspenso pela directora da DREN, acusado a partir de uma denúncia por ter insultado o primeiro-ministro.

Ora bem, temos portanto um professor que faz um insulto ao primeiro-ministro (algo que já se transformou numa moda nacional há uma data de anos), outro que o denuncia e uma professora que decide punir o primeiro com base numa denúncia. Creio que a classe dos professores sai mais maltratada do que a reputação do primeiro-ministro. Mas quem sou eu para decidir isto.

Se a moda pega voltamos ao tempo do antigo regime e dos primeiros anos pós-25 de Abril. Nesta altura o cartoonista Augusto Cid lançou um conjunto de livros onde caricaturava algumas figuras dos governos de então, nomeadamente Ramalho Eanes, Mário Soares e Álvaro Cunhal. Estes livros eram apreendidos pouco tempo depois de chegarem ao mercado, o que lembra um pouco o caso do Prof. Charrua.

E que dizer também do fim do programa dos Gato Fedorento? Foi premeditado ou terá incomodado alguém com poder para "carregar no botão"?

De qualquer forma, vivemos tempos difíceis. Não os tornem ainda mais dificeis...

segunda-feira, maio 28, 2007

46. A travessia do deserto

Mário Lino, o mesmo ministro que veio a público comer mioleira de vaca e dizer que era "perfeitamente seguro", contradizendo assim todos os estudiosos da área, vem agora afirmar publicamente que "a sul do Tejo era um deserto" e defendendo o futuro aeroporto da Ota numa zona pantanosa e de nidificação de toda a espécie de aves.

Quais serão os pré-requisitos para se ser ministro, além da mais profunda estupidez?

45. Era uma vez um canal privado...

Era uma vez um canal privado num paraíso chamado Venezuela. Acusado de estar implicado no golpe de estado que tentou tirar o poder a Chavez.

E agora, Venezuela? Que mais vais perder?

44. Má sorte

Dizem as "boas línguas" que a sorte existe. As más linguas dizem-no também, e mais amíude, talvez por experiência própria...

No outro dia vi um filme chamado "secrets" e que girava em torno de um conjunto de entrevistas a pessoas que tinham descoberto o segredo da "lei de atracção", a qual não tinham qualquer conotação sexual, esclarecendo apenas um facto que todos pressentimos - tudo o que nos acontece é predestinado, ou resulta da atracção, do nosso estado de espírito.

Se pensarmos bem, isto é verdade. Se olharmos para a maioria dos casais, vemos semelhanças estranhas nos dois, se calhar semelhanças que nem eles próprios sonham ter.

Se estamos tristes atraímos ainda mais tristeza, dizia o filme. Se fosse verdade, uma pessoa que entrasse em depressão chegaria rapidamente ao suícidio. Se estamos felizes atrairemos mais felicidade.

Tive um caso prático hoje de manhã, na qual me sentia um lixo, numa segunda-feira antes de ir para o emprego. Como cheguei cedo, decidi ir ao centro tomar o pequeno almoço a um café diferente, um perfeito "mimo" para o ego. A ver se o levantava, tipo "viagra". Tarefa dificil nos tempos que correm...

Chegando ao café, estavam todos na penumbra, armados de esfregonas. A montra cheia de bolos abriu-me o apetite e pedi um lanche misto e um pingo directo. A senhora explicou-me, com um ar talvez mais arrasado do que o meu, que tinham sofrido uma inundação provocada pelo rebentamento de um cano. Por isso não podia fazer café, pelo que me serviu um nescafé com uma cafeteira mínuscula de leite.

A pergunta é, se um estivesse de bom humor, teria o cano rebentado?

Este pensamento simples alegrou-me o resto do dia. Não fosse acontecer uma tragédia.

(Afinal a tragédia aconteceu - saltei a numeração dos posts e mandei o 43 para o c...lho. Paciência assim tem mais piada.)

sábado, maio 26, 2007

42. Flashfront

De vez em quando surgem conceitos novos, ou pelo menos raros, em televisão ou cinema mas como estamos absorvidos pelo enredo por vezes não nos apercebemos. Tal como na vida - existem pequenos milagres diários dos quais só nos apercebemos se prestarmos muita atenção a tudo o que nos rodeia. O problema é que na vida actual tudo avança a uma velocidade tal que não temos tempo para estas pequenas coisas que no final é aquilo que traz algum sabor à nossa existência.

Vi ontem o último episódio da terceira temporada da série Lost, com a mesma fome de quem não come à mais de quinze dias. Como é hábito, ao longo do episódio desenrola-se uma história paralela sobre um dos personagens, sob a forma de um flashback. Ou seja, uma história sobre a vida passada, o que funciona muito bem depois de nos habituarmos.

Neste último episódio, e mais concretamente no último minuto, apercebemo-nos de que estivemos a ver não um aspecto da vida passada do Jack, ou seja um flashback, mas sim um "flashfront", nome inventado por mim, porque neste caso a história se passa no futuro, já fora da ilha, e revelando apenas os pormenores necessários para esperarmos ansiosamente pela quarta temporada, a qual se vai desenrolar no mesmo formato do 24.

Fabuloso e ao mesmo tempo imperdível, mas como sempre, apenas para os apreciadores. Como um bom whisky.

quarta-feira, maio 09, 2007

41. Post Sem título

Não consegui dar um titulo a este post, tal como não tenho palavras para descrever o que sinto quando ouço as atrocidades que acontecem a crianças.

Sendo pai de duas crianças, de 3 e 9 anos, não me consigo pôr no lugar de determinados pais, mesmo sabendo que pode acontecer a todos. Falo de Madeleine, a menina Inglesa raptada da casa onde estava a dormir em Lagos. Não faz sentido. E as autoridades que não sacudam as culpas porque demoraram onze horas até fecharem as fronteiras.

Mas existem outros casos, menos mediáticos mas mais dramáticos. Um menino de 4 anos, filho de um funcionário de um cliente da minha empresa, tem Leucemia, com prognostico muito reservado.

Hoje ao abrir o jornal, vejo no obituário a notícia do falecimento de uma criança de 5 anos.

E nós aqui, a lutarmos pelas nossas vidinhas, muitas vezes consumidos por considerações fúteis.

Não faz sentido nenhum.

40. Serial Killer

Ontem o Nuno Markl comentou um facto ao qual tenho de dar razão. Dizia ele na Antena 3 que os Americanos deveriam começar a fazer séries más. Isto porque a qualidade das séries que estão a dar actualmente é tão grande e prendem de tal forma que é rara a noite em que não dê um novo episódio num qualquer canal.

Dizia ele também que isto não se passava se fosse o Barco do Amor.

Ou o Michael Knight ("Kit, venha me buscar").

quinta-feira, maio 03, 2007

39. Anteriormente, neste blog

É assim que começam todos os episódios da famigerada série "Perdidos". Previously on Lost.
Quando começou a dar na TV, só apanhei a partir do quarto ou quinto episódio da 1ª série, pelo que fiquei completamente confuso e completamente averso à série. Não entendia como é que tanta gente conseguia gostar daquilo.

Recentemente comecei a ver os episódios seguidos da primeira série, a partir do primeiro, e finalmente entendi que a confusão que sentira anteriormente era propositada e estudada ao pormenor. Vi (ou seja devorei) cada episódio como se não houvesse amanhã, ficando acordado até ser vencido pela exaustão, ansiando sempre por mais um episódio. Até que fiquei bloqueado no último episódio da 2ª série - um problema qualquer bloqueava este episódio. O meu alto estado de ansiedade levou-me à conclusão de que aquilo era uma droga, criava habituação. O meu organismo estava viciado na adrenalina causada por cada episódio. O facto de não conseguir ver o climax da 2ª série fez-me acordar.

Estava a ser manipulado. Porquê e por quem? Uma pesquisa rápida na net deu-me a perceber parte da história. No fim da década de 90, a televisão estava moribunda pela estagnação causada pela repetição dos mesmos modelos. Eis que surgem séries de grande qualidade, das quais Lost, Donas de Casa Desesperadas, 24, Prison Break são alguns modelos. Como linha comum têm uma história que se prolonga no tempo sem perder nunca a tensão. Para isto são necessários enredos de qualidade, que não percam o interesse, bem como actores competentes.

A primeira série de Lost, é, a meu ver, do melhor que se fez em televisão. O expectador (e nunca esta palavra levou tão longe o sentido de expectar), ganha uma familiaridade tal com as personagens que facilmente nos transportamos para a ilha. Ninguém é perfeito. O meu elemento favorito? Hurley.

Alguns pormenores interessantes que descobri:

(1) O episódio piloto foi o mais caro de sempre feito para televisão. Custou entre 10 e 14 milhões de dólares e o lugar do executivo que assinou o projecto. Como é hábito, todas as revoluções reclamam as suas vítimas.

(2) Com todos os milhões envolvidos, ninguém se lembrou de alterar o genérico inicial, que qualquer pessoal a tirar um curso de 3d Studio consegue fazer na primeira aula. E sem o defeito no S. Se reparem bem, a perna do S torna-se transparente à medida que se aproxima. Mas isto marca a diferença. Não se pretende nada que interfira com a tensão.

(3) A boazona da Kate está noiva de um dos actores da série. Quem será? Dado que ela se está a atirar tanto ao Jack como ao Sawyer, é dificil ver. Será ao Jack? Será ao Sawyer? Acertaram. A boazona da Kate está noiva do Charlie. O palermóide que entrou no Senhor dos Anéis e que aqui é o drogado de serviço.

(4) Na terceira série entra o actor Brasileiro Rodrigo Santoro. Este facto encheu de orgulho o nosso pais irmão. Mas poucos episódios aguentou, porque foi mal aceite pelo público. E como foi mal aceite, saíu tão rápido como entrou, mas de uma forma mais brutal: foi enterrado vivo. Mesmo assim o pobre coitado teve a oportunidade de fazer de Xerxes no filme "300".

Ou seja, voltamos ao espírito das séries intermináveis que davam nos anos 70 (género "O Fugitivo"), que nunca chegavam ao seu climax. Reinventámos a roda e ainda assim eles chamam isto de revolução. Recuso-me a ser manipulado. É fácil ver na net os resumos de cada episódio. Na wikipedia basta procurar por Lost e por Spoilers.

Um pormenor interessante em volta de isto é o aumento do interesse pelas pessoas em volta das séries. Antigamente as pessoas ligavam mais aos filmes do que às séries. A diferença está no tempo em que se condensa o enredo, comprimido em duas horas ou desenvolvendo-se ao longo do tempo. Hoje as pessoas acham compensador gastar dezenas de horas à frente do televisor ou do computador a visionar episódio por episódio das séries.

Passou a ser comum ouvirmos alguém dizer "passei o fim-de-semana a ver a primeira série do 24". Geralmente é fácil vermos as pessoas que fazem isto - têm os olhos do tamanho de azeitonas rodeados por grandes manchas negras de cansaço. Para aliviar a sobrecarga de adrenalina passam uma semana a bater com a cabeça na parede.

Mas se é adrenalina e uma experiência mais duradoura de imersão, porque não ler um bom livro? Façam-no e aproveitem melhor o tempo.

Sejam manipulados em grande estilo.

segunda-feira, abril 23, 2007

38. Bombástico!

Num era de mediocridade, estamos de estar atentos a tudo o que sobressai, sob pena de chegarmos ao fim da década e de respondermos com um encolher de ombros aos putos da altura que nos perguntarem sobre como foi esta década. Um bocado como os anos noventa. O que foi a melhor coisa que aconteceu nos anos noventa? Só o início do revivalismo dos "loucos" anos 80, anos em que começamos realmente a gozar a nossa liberdade.

Vem isto a propósito do programa dos Gato Fedorento que deu no domingo, e em especial uma rábula sobre o "Dr. House", onde debatiam o caso do joelho do Mantorras. Ou seja, de uma assentada, quatro coisas de que gosto ou que me dizem muito:

  • Gato Fedorento, quatro corajosos que lutam contra o tempo e contra o marasmo deste país. É um trabalho sujo fazer rir, mas alguém tem de o fazer. E da forma que o estão a fazer é bem possível que lhes faça mal à saúde.
  • Dr.House, porque é uma série bem escrita que tem o equilibrio em todas as frentes.
  • Humor, porque a vida não é só tristezas.
  • Benfica, porque gosto de sofrer todos os anos, sei lá.

No fim da rábula, sugeriram "provocar um aborto histérico" na eventual "gravidez histérica" do Mantorras, e quando iam a iniciar o "tratamento" recebem um telefonema a relatar que o cartão da "Médis Angolana" já não era válido no nosso país.



domingo, abril 22, 2007

37. Grafittis e consumismo

Fui passar o fim de semana a Lisboa. Algo que faço com alguma regularidade para desenjoar da "nortalidade". De tudo o que vi ficaram-me duas imagens muito vincadas.

A primeira tem a ver com a quantidade enorme de grafittis que existe em tudo o que é lado. E o pior é que ninguém se lembra de dizer, antes que não fique uma parede de um monumento por estragar, que aquilo é crime. À alguns anos aconteceu a mesma coisa, mas houve uma campanha televisiva que mostrou que não se devia fazer, e a coisa acalmou, agora, só porque numa dessas séries que ninguém vê mas todos sabem, um puto fazia grafittis, pimba! Tudo o que é parede já está sarrabiscada. Ou então aprendam a fazê-lo bem.

A segunda coisa que guardei na memória foi a resposta que uma mãe deu à filha que queria que lhe comprasse qualquer coisa: "Ora, a menina não seja consumista!". A miuda não teria mais de quatro ou cinco anos, e para ela vai a minha mensagem de apoio. Com respostas destas não admira que as pessoas se tornem psicopatas...

sexta-feira, abril 20, 2007

36. Pânico na Universidade

Esta semana foi notícia o massacre perpetrado na Universidade Técnica da Virginia por um estudante de Inglês, de origem Sul-Coreana. O rapaz que se suicidou após ter matado 32 alunos e professores, começou por matar dois alunos na residência universitária, depois ainda teve tempo para ir aos correios enviar um conjunto de vídeos e fotografias à NBC e posteriormente dirigiu-se à universidade para continuar a matança.

Tudo indica que o rapaz sofria de problemas mentais e que tinha dificuldade em se relacionar com os demais, fruto da sua condição de estrangeiro e do seu pouco domínio da língua. Por alguma razão estava a estudar inglês. O mal deste caso em concreto reside no facto dos colegas o perseguirem activamente.

Pergunta:

Que sociedade é que permite que alguém com problemas mentais já identificados possa comprar armas?

Tendo ele indicado no material que enviou à NBC uma referência ao tristemente célebre massacre de Columbine, e brilhantemente retratado pelo documentário de Moore, significa que vai haver alguém que tentará ultrapassar o massacre de Vírginia?

Porque carga de água é que apareceram em todos os jornais a fotografia dele empunhando as duas armas?

Pondo de lado a hipótese de ter usado um suporte, quem tirou esta fotografia?

E quando é que os Estados Unidos aprendem que com armas não se brinca?

Estou mesmo a ver o diálogo que o puto teve com a pessoa que lhe vendeu as armas. Deve ter sido algo como:

- Bom dia, pretendia comprar uma arma.

- Sim senhor, é para defesa pessoal, caça ou massacre.

- Massacre.

- Pois muito bem. Para massacre tenho estas muito boas. Estão em promoção. Pelo preço de uma leva duas. E pensa suicidar-se no fim?

- Ah...sim...

- Então se não se importa o pagamento terá de ser feito em dinheiro. Ordens do patrão.

- Com certeza. E já agora o senhor não se importava de me tirar uma fotografia com as armas? É para mandar para a minha mãezinha...